Capim Flechinha (Echinolaena inflexa) - Plantas Ornamentais Nativas

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Inflorescência do tipo Espiga do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)
Parque da Serra do Curral, Minas Gerais, Brasil


Esse guia é uma continuação da publicação: "Guia Ilustrado - Identificação de Capins Nativos Ornamentais"

Identificação

(1) Possui colmos ramificados na base da planta e nós superiores. Possui rizomas;
(2) As folhas não tem dimorfismo foliar, são todas parecidas, com formato linear ou lanceoladas (formato de lança). A lâmina foliar pode ser lisa (ou seja, sem pelos/tricomas) ou peluda. As folhas possuem uma coloração verde ou glauca (tons acinzentados ou azulados);
(3) A inflorescência é uma espiga, com uma consistência bem rígida (não maleável). É dessa característica que vem o nome científico da espécie (Echinolaena inflexa). Inflexa é uma palavra de origem latina que significa “inflexível”;
(4) A parte superior da inflorescência (onde estão as espiguetas) está inclinada, formando um ângulo de 90 graus em relação a raque (que é reta). Esse ângulo lembra a estrutura de uma flecha, e é dessa característica que vem o nome popular da espécie (Capim Flechinha);
(5) As espiguetas podem ser lisas ou extremamente peludas (ricas em tricomas). Os pelos tem uma base volumosa/engrossada (pelos/tricomas tuberculados);
(6) A espigueta que está na posição inferior da espiga é neutra/estéril, enquanto que a espigueta que está na posição superior da espiga é frutífera;
(7) As glumas inferiores e superiores (1º par) são maiores que as glumas lema e pálea (2º par).


O Capim Flechinha (Echinolaena inflexa) geralmente alcança entre 2 cm a 1 metro de altura. Normalmente possuem um crescimento Cespitoso Decumbente (ou seja, essas plantas se “espalham” vegetativamente, elas não ficam confinadas no mesmo lugar).
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Touceira Cespitosa Decumbente do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)
Itu, São Paulo, Brasil
Foto de Eduardo M Jr, retirada do grupo do Facebook “DetWeb


Touceira Cespitosa Decumbente do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)
Carrancas, Minas Gerais, Brasil
Foto de luedemann_g


As lâminas foliares possuem entre 1,4 cm a 10 cm de comprimento, possuindo entre 2 mm a 6 mm largura.
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Folhas do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)
Curvelo, Minas Gerais, Brasil
Foto de Geraldo Pereira, retirada do grupo do Facebook “DetWeb


Folhas do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)
Jardim Botânico, Brasília, Brasil


Folhas do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)
Lago Paranoá, Brasília, Brasil
Foto de luedemann_g

Folhas do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)

Folhas do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)

Folhas do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)

Folhas do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)

Folhas do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)

Folhas do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)
Leopoldo de Bulhões, Goiás, Brasil
Fotos cedidas gentilmente pelo meu amigo Júlio Cesar (@jcveneno), 
cultivador responsável pelo canal “JC veneno Júlio Cesar



A Espiga (excluindo o colmo da raque) possui entre 1 cm a 5 cm de comprimento.
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Inflorescência do tipo Espiga do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)


Inflorescência do tipo Espiga do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)
Alto Paraíso de Goiás, Goiás, Brasil
Foto de thiagorbm

Inflorescência do tipo Espiga do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)
Taguatinga, Brasília, Brasil
Foto de araujos


Inflorescência do tipo Espiga do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)
Área de Preservação da COPASA, Minas Gerais, Brasil


Taxonomia e Habitat

Todos os capins pertencem a família Poaceae (se lê, “Poace”), mas essa família está dividida em várias subfamílias e tribos diferentes. Cada tribo possui suas próprias características, e capins que compartilham a mesma tribo possuem muitas características parecidas.

Atualmente, Poaceae está dividida em 12 subfamílias diferentes, sendo Panicoideae (se lê, “Panicoide”) a segunda maior subfamília, possuindo 3.241 espécies, distribuídas em 247 gêneros. O milho (gênero Zea), a Cana de Açúcar (gênero Saccharum) e o Sorgo (gênero Sorghum) pertencem a essa subfamília.

A título de curiosidade, entre as 12 subfamílias de Poaceae, a maior é a subfamília Pooideae (se lê, “Poide”), possuindo 4.000 espécies, distribuídas em 15 tribos e 200 gêneros diferentes. O Trigo (gênero Triticum), a Cevada (gênero Hordeum) e a Aveia (gênero Avena) pertencem a essa subfamília.

A subfamília Panicoideae é formada por 13 tribos, sendo a tribo Paniceae, Andropogoneae e Paspaleae as três maiores. O gênero Echinolaena pertence a tribo Paspaleae (se lê, “Paspale”). Existem no mundo cerca de 597 espécies da tribo Paspaleae, distribuídas em 39 gêneros diferentes.

Sistemática Filogenética da subfamília Panicoideae


A tribo do gênero Echinolaena (Paspaleae) foi recentemente desmembrada da tribo Paniceae (ou seja, antigamente as duas tribos eram uma só). Essa separação das tribos foi feita com base em estudos morfológicos, moleculares e citogenéticos, então não é possível diferenciar as duas tribos só através da morfologia das plantas, tudo bem?

Existem no mundo cerca de 2 espécies do gênero Echinolaena: (1) Echinolaena gracilis e (2) Echinolaena inflexa, e ambas ocorrem apenas na América do Sul. No Brasil, as 2 espécies podem ser encontradas. Aqui na América do Sul, as 2 espécies são encontradas em ambientes com clima tropical, subtropical e temperado. Grande parte das populações estabelecidas são especializadas em viver em ambientes mais secos, onde as chuvas cessam durante parte do ano (savanas, estepes). Porém, algumas populações estão adaptadas em viver em locais mais úmidos (áreas alagadas). As espécies do gênero Echinolaena são encontradas em solos com pH mais ácido (sendo ele arenoso ou argiloso), com elevadas concentrações de alumínio e baixa fertilidade natural.
Touceira Cespitosa Decumbente do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)
Cidade Jardim Taquaril, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil


Os solos que geralmente apresentam essas características são: Latossolos, Argissolos, Neossolos, Cambissolos, Plintossolos, Espodossolos, Gleissolos, etc. (clique no nome do solo pra saber mais sobre ele). As espécies desse gênero são geralmente perenes (vivem por muitos anos), mas também podem ser anuais (ou seja, vivem apenas durante 1 ano).

O Capim Flechinha (Echinolaena inflexa) pode ser encontrado habitando as seguintes vegetações: Cerrado (todas as fitofisionomias), Campinarana, Caatinga, Campos de Altitude, Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica) e Restinga. Essa espécie dificilmente ocorre em áreas degradadas (é mais fácil de ser encontrada em áreas preservadas).

Utilização

Até o momento eu não achei absolutamente nenhuma informação de cultivo do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa) em vasos (meu objetivo principal). Porém, eu sei que essa espécie está sendo utilizada em projetos de recuperação de áreas degradadas.

Economicamente falando, é uma espécie nativa com boa palatabilidade e alto valor forrageiro (ou seja, é altamente recomendada para alimentar animais herbívoros). Em pesquisas feitas para avaliar a preferência alimentar do gado doméstico, foi verificado que essa espécie era a preferida pelos animais. Durante o pico da época de chuva, essa espécie apresenta maiores teores de proteína bruta e menores valores de fibra (principalmente nas folhas), o que torna a planta mais macia, fácil de ser ingerida e digerida.
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Folhas do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)
Leopoldo de Bulhões, Goiás, Brasil
Fotos cedidas gentilmente pelo meu amigo Júlio Cesar (@jcveneno), 
cultivador responsável pelo canal “JC veneno Júlio Cesar



Cultivo do Capim Flechinha

Reprodução

Assim como acontece com o Capim Cidreira Brasileiro (Elionurus muticus), Capim Colchão (Andropogon leucostachyus) e o Capim Rabo de Burro (Andropogon bicornis), o Capim Flechinha (Echinolaena inflexa) também floresce na estação das chuvas. Ou seja, assim que a estação chuvosa se estabelece, as plantas florescem, são polinizadas pelo vento (ou fazem autofecundação) e as sementes desenvolvidas são liberadas. Ao contrário das outras espécies mencionadas, que liberam todas as sementes ainda na estação chuvosa, o Capim Flechinha (Echinolaena inflexa) continua liberando sementes até o final da estação seca, possuindo um ciclo reprodutivo que pode durar de 5 a 10 meses. Na região centro oeste, os meses de setembro e outubro costumam ser as únicas épocas do ano em que essa espécie não é encontrada florida (ou seja, não forma inflorescências).

Essa espécie é muito estimulada pela passagem do fogo, voltando a rebrotar cerca de 40 dias depois de ser queimada. Em pesquisas que avaliaram a reprodução dessa espécie em áreas queimadas e não queimadas, foi observado que a produção de sementes caiu quase pela metade em áreas não queimadas (ou seja, as plantas precisam passar por um incêndio para florescer bem).
Capim Flechinha (Echinolaena inflexa) após a passagem do fogo



Germinação, Longevidade e Fertilidade das Sementes

As sementes do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa) possuem um problema seríssimo de germinação, o que dificulta muito o estabelecimento dessas plantas. Para entender como esse problema ocorre, é preciso relembrar de algumas características básicas da espigueta. Vamos lá:

Como eu já falei anteriormente na publicação “Capins Ornamentais Nativos – Identificação”, a espigueta dos capins é formada por diferentes componentes, e um dos mais importantes são as glumas. As glumas nada mais são do que folhas especiais modificadas, e a cada espigueta possuí 2 pares de glumas.

O 1º par é composto pela gluma superior e pela gluma inferior, e sua principal função é ser responsável por proteger o 2º par de glumas. O 2º par é composto pela gluma pálea e pela gluma lema, e sua principal função consiste em proteger a semente depois que ela é formada.

Depois que as sementes são formadas, elas ficam protegidas pelas glumas pálea e lema, então as duas glumas acabam sendo liberadas juntas no momento de dispersão da semente. Ou seja, o 2º par de glumas nunca fica preso na planta mãe, elas acompanham as sementes seja lá para onde elas forem. Isso é o justamente o oposto do que acontece com o 1º par de glumas. A gluma superior e gluma inferior (1º par) costumam ficar firmemente presas na planta mãe (na inflorescência), já que elas não participam diretamente da proteção das sementes.

Essa diferença entre as glumas que dispersam com a semente, e as glumas que ficam com a planta mãe, é o padrão mais comum entre os capins. Porém, esse padrão não ocorre na subfamília Panicoideae (e nem nas tribos Paniceae, Andropogoneae, Melinideae e Arundinelleae).

A principal característica da subfamília Panicoideae é que as glumas inferior e superior não ficam presas junto a planta mãe, ao contrário, elas também vão embora (são as famosas “glumas caducas”). Ou seja, o 1º par de glumas acompanha o 2º par durante o processo de dispersão da semente. Isso significa que as sementes (depois de liberadas da planta mãe) são protegidas por um invólucro duplo. Além de serem protegidas pelo 2º par de glumas, também são protegidas pelo 1º par. Então as espiguetas da subfamília Panicoideae são duplamente protegidas.

Essa dupla camada de proteção é um grande ponto positivo, né? Infelizmente não. Essa característica pode ser um grande problema, porque ela se junta com outra característica típica da tribo Paspaleae. Eu vou explicar:

Uma das características da tribo Paspaleae (a qual pertence o gênero Echinolaena), é que existe uma diferença entre a posição das espiguetas e a consistência das glumas.

Posição (inferior): as espiguetas que estão na posição inferior da inflorescência, costumam ter dois tipos de flores: (1) flores neutras/estéreis (as flores não possuem partes masculinas ou femininas, então não produzem pólen e sementes); (2) flores masculinas (são flores que só possuem estames, e com isso só podem gerar pólen, nunca sementes).

Posição (superior): já as espiguetas que estão na posição superior da inflorescência, costumam ter apenas um tipo de flor, que são as flores frutíferas (ou seja, flores que possuem partes masculinas e femininas, então produz pólen e sementes).

Diferente da espigueta inferior (que tem um aspecto mais membranoso/macio), a espigueta superior costuma ter um aspecto mais enrijecido/duro. Ela tem esse aspecto porque o seu 1º par e o 2º par de glumas são mais rígidos/coriáceos. Então além das sementes já serem naturalmente protegidas pelo invólucro duplo formado pelo 1º e o 2º par de glumas, ainda existe esse adicional de proteção (as glumas serem naturalmente mais rígidas nessa tribo).

Como são justamente as espiguetas superiores que formam as sementes, isso significa que as sementes do gênero Echinolaena são sempre triplamente protegidas (tem a proteção dos 2 pares de glumas, e os pares ainda possuem naturalmente uma consistência mais dura). Esse excesso de proteção acaba dificultando muito a germinação das sementes.
Glumas rígidas do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)
Areia Branca, Sergipe, Brasil
Foto de Gabriela Santos, retirada do grupo do Facebook “DetWeb

Espiguetas do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)
Foto retirada da página do Facebook “Rede De Sementes Do Cerrado


Em pesquisas feitas para avaliar a germinação das sementes protegidas em diferentes estímulos germinativos, concluiu-se que as sementes protegidas simplesmente não eram afetadas por nenhum estimulo ambiental. Aquecimento a 80ºC, fumaça, variação da intensidade de luz e temperatura, umedecimento do substrato com nitrato de potássio, escarificação com ácido sulfúrico, etc., nenhum desses fatores conseguiam estimular a germinação das sementes protegidas. Os pesquisadores verificavam nos experimentos que poucas sementes germinavam (menos de 5%) ou simplesmente nenhuma semente conseguia germinar.

Acredita-se que a proteção tripla das sementes dificulta o umedecimento e a troca de gases do embrião (ou seja, ele não consegue se hidratar e respirar). Dessa maneira ele não consegue germinar.

Felizmente foram realizadas pesquisas para verificar a germinação das sementes limpas (isto é, sementes que tiveram o 1º par ou até mesmo o 2º par de glumas removidas mecanicamente), e o resultado foi espetacular. A taxa de germinação das sementes limpas chegou a 40 % em algumas pesquisas, já em outras chegou a 90%.
Sementes limpas do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa) com apenas o 2º par de glumas (lema e pálea)
Imagens retiradas do artigo intitulado “Phylogenetic relationships of Echinolaena and Ichnanthus within Panicoideae (Poaceae) reveal two new genera of tropical grasses”.

Em minha pesquisa (feita com base na literatura científica) eu não consegui concluir se as sementes limpas do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa) possuem algum tipo de dormência (ou se são consideradas quiescentes). Mas o que eu posso garantir, é que as sementes protegidas acabam possuindo uma dormência física, que impede a sua germinação. Eu não consegui encontrar nenhuma pesquisa testando o efeito direto do fogo na germinação das sementes protegidas. Será que é o fogo que quebra essa dormência física? Não sei. 

Também não consegui encontrar muitas informações com relação a longevidade das sementes. Sei que depois de 2 anos a taxa de germinação diminui, mas não sei confirmar com que tipo de sementes isso acontece (sementes limpas ou protegidas). Mais pesquisas são necessárias para elucidar essas questões. 

Para garantir a germinação das sementes do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa), é extremamente recomendável remover o 1º e o 2º par de glumas que protegem as sementes. As sementes limpas podem começar a germinar em um período de 7 dias depois de plantadas.


Crescimento das Mudas

Diferente dos capins do gênero Aristida, no gênero Echinolaena as mudas jovens investem inicialmente mais recursos na produção de folhas, o que promove um crescimento mais rápido da parte aérea das plantas. Quando se tornam mais velhas, as plantas investem mais recursos em seus rizomas.
Mudas do Capim Flechinha (Echinolaena inflexa)
Foto retirada da página do Facebook “Laspef Ufscar

Infelizmente eu não achei informações a respeito do crescimento das mudas dessa espécie em vasos. Eu mesmo vou tentar obter informações quando conseguir adquirir sementes ou mudas. Quando eu conseguir, volto aqui pra atualizar a publicação. Quem quiser me vender/trocar/doar algumas sementes, entre em contato comigo por e-mail (matheusloboconta@gmail.com), pelo Instagram (@oscordados.mss) ou por WhatsApp (62986313764).


Ocorrência

O Capim Flechinha (Echinolaena inflexa) é nativo do Brasil, porém não é endêmico. Ele também pode ser encontrado em outros países da América do Sul. No Brasil ele pode ser encontrado na região Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins), Nordeste (Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Sergipe), Centro-Oeste (Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso), Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo) e Sul (Paraná).

Outras espécies de capins ornamentais nativos


Identificando capins ornamentais nativos





Referências

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