Como criar Baratas do Suriname (Pycnoscelus surinamensis) como Alimento Vivo

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Barata do Suriname (Pycnoscelus surinamensis) 
Fotos de Josef Dvorák
Antes de começar a falar sobre a criação de Baratas do Suriname (criação de Baratas da Terra, criação de Baratas de Jardim, etc.) você tem alguma ideia do porque a gente oferece alimentos vivos para os nossos bichos ? 

Tipo, pra que oferecer isso ? Não é melhor oferecer ração, que algo mais fácil, barato e prático ? 
Se você nunca parou para pensar nisso, primeiro eu gostaria que você desse uma olhadinha na publicação que eu fiz referente a isso, é essa aqui “A Importância de Oferecer Alimentos Vivos para Animais de Estimação” 
Normalmente o pessoal sempre fala pra gente oferecer animais vivos como fonte de alimento, mas a maioria não sabe explicar o porque disso. Ah, é porque faz bem ? É porque é a única opção que tem ? Dando uma olhadinha no que está escrito lá, muita coisa sobre esse assunto vai ser esclarecida.

Ah, deixa eu aproveitar aqui. Gostaria de pedir para você participar do grupo do Facebook "Baratas do Brasil - Blattodea (Blattaria)". O grupo é do meu grande amigo Matheus. O Matheus é um Biólogo especialista em baratas e ele criou o grupo para reunir todos os pesquisadores e criadores de baratas do nosso país. Ele também tem um canal no Youtube sobre baratas que se chama "Cockroaches Tube", entrem lá e se inscrevam. 

1 - Barata do Suriname - Que espécie é essa ? 
O que a gente conhece como Barata do Suriname (Barata da Terra ou Barata de Jardim) é um inseto da espécie Pycnoscelus surinamensis (se lê, “Picnoscelus surinamensis). 
Só pra você se situar, todos os animais que são considerados como sendo insetos estão nesse agrupamento chamado “Insecta” (esse que ta dentro do quadradinho vermelho). Os outros são os artrópodes que você já conhece. 
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Todas as espécies de baratas estão dentro da ordem chamada Blattodea. A ordem Blattodea é uma das mais numerosas ordens de insetos (desconsidere esses números tá ? Eu não sei se esses números ai estão corretos).
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Dentro da ordem Blattodea, existem várias famílias específicas de baratas, e a nossa Barata do Suriname está dentro da família Blaberidae (se lê, “Blaberide – família dos Blaberídeos). A maioria das baratas que são usadas como alimento vivo e animais de estimação estão dentro dessa família. 
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Dentro da família Blaberidae, existem várias outras subfamílias, cada uma delas contendo vários gêneros e espécies diferentes. A Barata do Suriname pertence a subfamília Pycnoscelinae (se lê, “Picnosceline” – subfamília dos Pycnoscelineos).
Subfamílias e  números de espécies vivendo no Brasil
Imagem retirada do artigo intitulado "Catalogue of Blattaria (Insecta) from Brazil"

2 - Baratas do Suriname - Onde vivem ? 
A Barata do Suriname é uma espécie nativa lá do Sudeste da Ásia (mais precisamente das Ilhas de Sunda, que pertencem ao Arquipélago Malaio), mas ela conseguiu se espalhar por todos os continentes. 
O Sudeste da Ásia fica lá do outro lado do mundo
Fonte
Apesar de ser uma espécie nativa da Ásia, ela foi “descoberta cientificamente” aqui na América do Sul (por Linneus em 1766), em um país pouco conhecido por nós Brasileiros, o Suriname (é por isso que ela tem esse nome de Barata do Suriname). 
Suriname, o menor país soberano da América do Sul
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A Barata do Suriname é aquilo que a gente chama de espécie Peridoméstica. Ao contrário das Baratas DOMÉSTICAS (como a Periplaneta americana), que conseguem viver dentro da casa das pessoas (ou seja, vivem dentro de ambientes totalmente artificiais), as Baratas do Suriname não conseguem viver em ambientes tão artificiais assim, elas precisam de ambienteis um pouco mais naturais para poderem sobreviver (ou seja, precisam de lugares que tenham terra, plantas, etc). 
Essa necessidade de viver em ambientes mais naturais está relacionado ao fato delas serem uma espécie que a gente chamada de Peridoméstica. Espécies Peridomésticas vivem em ambientes naturais, só que esses ambientes TÊM QUE ESTAR em contato com algum tipo de atividade humana. 
Não importa se e área de Cerrado, Mata Atlântica ou Caatinga, elas só vão conseguir sobreviver a onde existe a presença de pessoas (por exemplo, em jardins, criação de galinhas, criação de porco, criação de gado, estufas, plantação de milho, plantação de soja, plantação de café, plantação de eucalipto, etc). A Barata do Suriname é uma espécie muito comum, vai ser a primeira espécie de barata que você vai encontrar nesses ambientes mais naturais. 
Esse é um ambiente onde você provavelmente vai encontrar a Barata do Suriname (Pycnoscelus surinamensis)
Fofos feitas por mim durante visita a uma estufa localizada no município de Hidrolândia, Goiás.
Agora, essa é uma espécie Peridoméstica, e apesar de viver em ambientes mais naturais, isso não significa que ela vai conseguir viver em QUALQUER ambiente natural. Elas simplesmente não conseguem viver em ambientes virgens, aqueles ambientes naturais que não tem a presença do homem (por exemplo, reservas e parques nacionais). Elas não conseguem voar muito longe, então elas não conseguem chegar nesses ambientes menos alterados pelo homem (ou seja, sozinhas, elas não conseguem ocupar uma área de campo ou floresta, elas não conseguem se espalhar por essas áreas mais intocadas). Ela só vai conseguir ocupar esses ambientes se forem LEVADAS até lá (por exemplo, dentro de vasos de plantas, dentro de bandejas de frutas, etc.), e SE existir algum tipo de ATIVIDADE HUMANA acontecendo nesse local (criação de animais, plantações, etc). Sem a presença do homem, essa espécie não consegue sobreviver. 
Outro ambiente onde se pode encontrar a Barata do Suriname (Pycnoscelus surinamensis)
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É por isso que ela NÃO É considerada uma espécie invasora, ela é apenas considerada uma espécie exótica (o termo mais popular é “espécie naturalizada”). 


3 - Como encontrar as Baratas do Suriname ? 
Depois das Baratas Domésticas, as Baratas do Suriname devem ser as espécies mais fáceis de serem encontradas. Como eu falei anteriormente, essa é uma espécie Peridoméstica, elas precisam de ambienteis um pouco mais naturais para poderem sobreviver, e isso significa que para você poder acha-las, você vai precisar colocar a mão na massa. 
Você pode encontrar as Baratas do Suriname procurando na base de troncos mortos, plantas, em baixo de tijolos, pedras, restos de construção, etc. Elas sempre vão procurar estar em contato com a serapilheira (sabe aquela camada de folhas mortas cumuladas que ficam por cima do chão? É isso) e o solo do local.

Elas adoram se esconder de baixo de tijolos e pedaços de madeira, principalmente esses que estão mais úmidos e sombreados
Se você, assim como eu, mora em uma região mais seca (eu moro em Goiânia - GO), a melhor época do ano para procura-las é na estação chuvosa, que vai de dezembro a março. Se você mora em uma região mais úmida, vai poder encontra-la em quase qualquer época do ano (com exceção dos dias mais frios do inverno). 
Eu já percebi que as fêmeas adultas podem ser atraídas pelas luzes das casas a noite, então se você tiver sorte (muita sorte), pode acabar pegando uma Barata que entrou na sua casa sem querer (eu já peguei umas 3 baratas desse jeito). 
Quando você for procurar, dê atenção aquelas áreas que sejam um pouco mais úmidas (essa é uma espécie que prefere viver em lugares com solo um pouco mais úmido). A escolha de locais mais úmidos fornece uma proteção contra a desidratação e permite com que as baratas tenham uma maior resistência à perda de água. Porém, apesar disso, eu já encontrei essas baratas vivendo em lugares super secos.


Confesso que não esperava encontrar essa barata vivendo nesse local (o solo estava extremante seco)


4 - Reprodução - Partenogênese
A partenogênese é um tipo de reprodução assexuada (ou seja, não é preciso ter machos e fêmeas para gerar filhotes). Os filhotes nascem de embriões que não precisam ser fertilizados (isto é, a fêmea gerou um óvulo, e esse óvulo, mesmo não sendo fertilizado por um espermatozoide, vai gerar um embrião, que vai dar origem a um filhote). Ou seja, nas espécies que se reproduzem por partenogênese, o macho não é necessário (muitas vezes ele nem existe), só as fêmeas já são suficientes pra manter as populações na natureza. 
Os pulgões se reproduzem por partenogênese
Fotos de MedievalRich
Agora falando de maneira BEEEEEEEM simplificada. Dependendo do tipo de partenogênese que ocorre na espécie, os filhotes produzidos podem ou não ser clones exatos de sua mãe. Os filhotes que possuem todo o material genético da mãe são chamados de Clones Completos (ou seja, são IDÊNTICOS a mãe) e os que têm apenas metade do material genético são chamados de Meio Clones. 
Os Clones Completos são geralmente formados em partenogênese onde NÃO TEM A MEIOSE. Agora, SE OCORRER A MEIOSE na partenogênese, os filhotes vão ter apenas um pouco do material genético da mãe, o que significa dizer que eles vão ser MUITO PARECIDOS com a mãe, mas NÃO serão iguais geneticamente falando (não vão ser clones). 
Existem VÁRIOS tipos de Partenogênese (cada uma mais complicada do que a outra), mas no momento eu só vou explicar dois tipos aqui pra vocês (e mesmo assim vou explicar de uma maneira BEM rasa). Existe a Partenogênese Automítica (também conhecida como Partenogênese Telítoca ou Thelytok) e a Partenogênese Apomítica (também conhecida como Apomixia)
Na Partenogênese Automítica, a meiose ocorre e a diploidia é restaurada pela fusão de núcleos não irmãos de primeira divisão (fusão central) ou núcleos irmãos de segunda divisão (fusão terminal). TRADUZINDO, os filhotes não vão ser clones. 
Lagartos do gênero Cnemidophorus são conhecidos por se reproduzirem partenogeneticamente
Fotos de DiverDave
Agora na Partenogênese Apomítica, os óvulos são produzidos por divisões mitóticas e só isso (não tem a meiose), e essas células se desenvolvem diretamente nos embriões. TRADUZINDO, os filhotes vão ser clones (isto é, vão ser IDENTICOS geneticamente a mãe). 
Esse tipo de partenogênese é mais comum em plantas, como a Mandioca (Manihot esculenta
Antigamente (muito antigamente), era definido que as Baratas do Suriname tinham 2 tipos de reprodução, uma Sexual (aquela que a gente conhece, onde existe machos e fêmeas e ocorre o acasalamento), e outra Não Sexual (a Partenogênese Automítica). 
Os especialistas defendiam (isso antigamente) que existiam várias populações de Baratas do Suriname espalhadas pelo mundo, e que tinham populações que se reproduziam SÓ de maneira Sexual, e que tinham populações que se reproduziam SÓ de maneira Não Sexual (a Partenogênese Automítica). 
As populações que se reproduziam de forma Sexual SÓ existam no Sudeste da Ásia e no Arquipélago do Havaí, e no restante do mundo TODAS as outras populações de Baratas do Suriname se reproduziam de forma partenogenética. 
Essa ideia de que uma mesma espécie tinha dois modos de reprodução diferentes (ou seja, uma mesma espécie de barata poderia se reproduzir sexualmente ou por meio de “clones”) deixava os pesquisadores maluquinhos, então eles resolveram fazer alguns experimentos. 
Fazendo vários testes de laboratório, eles descobriram que quando você colocava uma fêmeas de Barata do Suriname que se reproduzia SÓ por partenogênese (isto é, não precisava de macho), junto com um macho sexual (isto é, um macho de uma população que se reproduzia sexualmente), essa fêmea na maioria das vezes REJEITAVA o macho (não queria nem saber dele). 
Nas vezes quando os machos conseguiam cruzar com a fêmeas a força, eles descobriram que a fertilidade das fêmeas partenogenéticas acabava sendo muito reduzida (ou seja, elas acabavam gerando pouquíssimos filhotes). E dos poucos filhotes que nasciam, TODOS eram fêmeas, e essas fêmeas só conseguiam se reproduzir por partenogênese. 
De ante do que os pesquisadores viram nesses experimentos (e em alguns outros), eles decidiram fazer uma coisa. Aquelas baratas que se reproduziam de forma Sexual, seriam consideradas uma NOVA espécie, e outras baratas que se reproduziam de forma partenogenética seriam consideradas uma OUTRA espécie (ou seja, eles fizeram uma separação dentro da mesma espécie). 
Ficou definido que as populações de baratas que se reproduziam de forma Sexual passariam a ser chamadas cientificamente de Blatta indica (Fabricius, 1775). Depois de um tempo, eles mudaram novamente esse nome e atualmente ela é conhecida como Pycnoscelus indicus (Fabricius, 1775). Seu nome popular é Barata Índica e ela só ocorre no Sudeste Asiático e no Arquipélago do Havaí. 
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Macho de Barata Índica (Pycnoscelus indicus). Reparem as suas antenas enormes
Fotos de 
Kwan

Já as populações de baratas que se reproduziam só por partenogênese ficaram sendo conhecidas por Pycnoscelus surinamensis (Linneus, 1766). Seu nome popular é Barata do Suriname (Barata da Terra ou Barata de Jardim) e elas ocorrem no mundo todo (Ásia, Oceania, África, Europa e América).
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Barata do Suriname (Pycnoscelus surinamensis)
Fonte
Existem 5 espécies de baratas que podem se reproduzir por partenogênese (como a Blatta orientalis , Blattella germanica, Periplaneta americana, etc.), só que normalmente quando essas espécies fazem isso, é de forma facultativa (ou seja, elas podem “escolher” se querem se reproduzir por partenogênese ou não). 
A única espécie de barata que parece não ter essa escolha é a Barata do Suriname, que se reproduz OBRIGATORIAMENTE por Partenogênese Automítica (Partenogênese Telítoca). 

5 - É seguro usar as Baratas do Suriname como Alimento Vivo? 
Coletar insetos no mato para alimentar os pets sempre foi um ato extremamente criticado pelos criadores mais experientes (e como TOTAL razão). Você não pode pegar um bicho qualquer que você achou e oferecer para o seu bichinho (você não sabe de onde ele veio, o que ele comia, se está ou não doente, como vai oferecer ele pro seu animal de estimação?). 
É preciso ser um pouco cauteloso na hora de oferecer comida aos nossos animais, por isso é sempre bom ficar atento a essas questões. Mas isso significa que não posso oferecer as Baratas do  Suriname para o meu pet ? Claro que não. 
Você pode SIMMMMM oferecer as Baratas do Suriname para os seus animais, você só precisa saber QUAIS são as baratas que você vai oferecer. Essa Barata que você acabou de coletar para utilizar como alimento vivo você não vai oferecer para os seus bichos, as baratas que você vai oferecer serão as filhas e as netas dela (ou seja, a próxima geração de baratas, descendentes das baratas que você pegou na natureza). 
Lembre-se, o seu objetivo em coletar as Baratas do Suriname é para fazer uma CRIAÇÃO, o que significa dizer que você NÃO VAI ficar dando as baratas que você acabou de coletar logo de cara para os bichos. Primeiro você vai coletar as baratas e vai colocar elas em um local adequado, depois vai dar muita comida pra elas e vai esperar elas se reproduzirem. Depois de um tempo elas vão se reproduzir e SÓ depois de você já tiver uma colônia bem estável é que você vai passar a alimentar o seu bicho com as baratas da sua criação. Antes disso você INFELIZMENTE vai ter que esperar. 
Como diz o ditado, "A paciência é uma virtude"
Fonte
Quando a colônia estiver estável (isto é, quando você pode pegar várias baratas da sua criação sem preocupação, porque tem tanto bicho se reproduzindo que nem faz muita diferença quando você tira alguma barata da colônia) você vai poder oferecer as baratas pro seu bicho sem problemas. 
O difícil de querer cuidar de animais carnívoros/insetívoros é esse. Antes de comprar o animal, primeiro você precisa ter uma fonte de alimento estável só pra ele. SÓ DEPOIS de ter essa fonte de alimento estável é que você vai comprar o animal que tanto deseja. É por isso que muita gente se rende as rações e animais mortos (que podem ser comprados e oferecidos na hora), porque querendo ou não, é bem mais prático mesmo. 
Mas agora voltando aquela questão sobre não oferecer animais que acabaram de ser coletados. 
Acredito que a maioria dos seres vivos (se não todos eles) podem ser eventuais hospedeiros de algum tipo de parasita específico (só a espécie humana tem VÁRIOS deles), que causam algum tipo de doença ainda mais específica. Com as baratas não seria diferente. 
Raiz danificada pelo ataque de parasitas
Fonte
A Barata do Suriname é conhecida por ser o hospedeiro intermediário do Oxyspirura mansoni, um tipo de Nematoide especialista em parasitar aves que é amplamente distribuído aqui na América do Sul (América em geral na verdade). 
O ciclo dele funciona mais ou menos assim: a ave fica contaminada ao comer uma barata que já estava infectada pelo nematoide. Quando estão dentro do trato digestivo da ave, os nematoides saem de dentro da barata e migram lá pra região do olho dela (credo), eles ficam um tempo lá e começam a se reproduzir, botando milhares de ovos que vão acabar parando na garganta da ave, que vai acabar engolindo eles sem querer. Esses ovos então passam pelo trato digestivo dela, são expelidos pelas fezes e são consumidos pelas baratas (quando elas comem as fezes contaminadas). Quando as aves comem as baratas contaminadas, o ciclo recomeça. 
Se a barata eventualmente morrer, TODOS os parasitas que estiverem dentro do corpo dela também vão morrer (não só nematoides, mas qualquer tipo de parasita como ácaros, platyhelminthes, protistas, bactérias, etc.). Aqueles organismos que NECESSITAM que a barata esteja viva para completarem o seu ciclo (porque normalmente a barata é só o hospedeiro intermediário, o hospedeiro definitivo é outro animal), simplesmente morreram com morte dela (os parasitas precisam que o hospedeiro fique vivo). 
É por isso que você não pode ficar apreçado (afobado) em querer alimentar os seus bichos com as baratas que você acabou de coletar. Cuide das baratas que você coletou, depois de um tempo essas baratas vão ter filhotes e vão acabar morrendo de velhice (e também vai morrer seja lá o que estiver dentro delas), e ai vão sobrar apenas as filhas delas, que são baratas totalmente limpas (são limpas porque nasceram na sua casa, vivem em um local limpo e recebem comida de qualidade). É essas baratas que são totalmente limpas que você vai oferecer como alimento vivo. 

6 - Quanto tempo vivem as Baratas do Suriname ?
O ciclo de vida dos insetos é um pouco diferente do nosso, eles passam (a maioria deles passam) por vários tipos de mudanças ao longo de suas vidas até se tornarem insetos adultos, e cada uma dessas mudanças costuma significar em um novo tipo de formato de corpo, ou um novo tipo de cor, etc. 
Ciclo de vida de um Gafanhoto
Ilustração de CL Goforth 
É importante ter em mente como funcionam essas mudanças, porque dependendo da maneira como a gente cria as nossas baratas, nós podemos acelerar essas mudanças (e fazer com que as baratas fiquem adultas mais rapidamente, se reproduzindo mais cedo) ou podemos atrasar essas mudanças (fazendo elas demorarem mais para se reproduzir). 
Muitas coisas podem aumentar ou diminuir a velocidade em que essas mudanças ocorrem, e essas coisas sempre estão relacionadas com fatores como: temperatura, umidade, quantidade de comida que recebem, qualidade da comida que recebem, se estão machucados ou não, etc. 
O frio é um agente que dificulta muito a vida dos insetos
Fonte
As baratas são insetos de crescimento Hemimetábolo, e vão passando por vários estágios de ninfa antes de chegar a fase adulta. Cada estágio de ninfa (os chamados instares ninfais) tem o seu próprio tamanho e sua própria expectativa de idade (que é o tempo que elas passam nesse estágio). 
A Barata do Suriname passa normalmente por 5 instares ninfais (a título de comparação, Blaptica dubia e Nauphoeta cinerea tem cerca de 7 instares ninfais), que duram em média 6 meses e 4 dias 
Depois do 5 instar ninfal, a barata chega finalmente a fase adulta, que dura em média 116 dias (3 meses e 26 dias). No total, a Barata do Suriname vive em torno dos 300 dias (cerca de 10 meses). 
A Barata do Suriname é uma espécie pequena, ela adulta tem um tamanho de 25 mm de comprimento e 10 mm de largura (ela é menor que Blaptica dubia e Nauphoeta cinerea). 
Essa é uma montagem que eu fiz a partir da foto de Josef Dvorák
Algumas pesquisas verificaram que o número de instares ninfais em baratas pode mudar dependendo do ambiente onde elas vivem (ou seja, dependendo da maneira como são criadas, o número de instares e o tempo em cada estágio de instar pode aumentar). Eles aumentavam principalmente quando as baratas eram criadas em ambientes com baixa umidade, quando recebiam menos comida e quando a alimentação era de baixa qualidade. 
A Barata do Suriname em condições ideias tem cerca de 5 instares ninfais, mas quando são criadas em ambientes ruins, elas podem ter cerca de 8 a 10 instares ninfais (o que atrasa e muito o tempo que levariam para virarem adultas). É por isso que é importante criar as baratas em condições mais adequadas. Se forem criadas em condições adequadas, as ninfas vão se desenvolver mais rápido e vão se reproduzir mais cedo, e quanto mais rápido elas se reproduzem, mais baratas você vai ter para oferecer como alimento vivo. 
Para reproduzirem, as baratas produzem uma capsula especial chamada de ooteca (é como se fosse um saco que protegesse os ovos), e guardam ela dentro do abdômen até a eclosão dos ovos (a fêmea fica muito inchada nesse período, fica como se realmente estivesse grávida). Os ovos eclodem normalmente dentro do abdômen dela, e depois ela simplesmente vai parir todos eles (e como se ela estivesse literalmente dando a luz - pode demorar mais de 30 HORAS para todos os filhotes nascerem). O número de ovos por ooteca (elas produzem normalmente duas) pode variar de 14 a 42 ovos, mas geralmente se tem 25 ovos (que vão gerar em média 50 ninfas no total, já que são duas ootecas). 
As Barata do Suriname vivem em média 116 dias (3 meses e 26 dias), e levam em torno de 45 a 60 dias (1 a 2 meses) para produzir uma ooteca (ou seja, leva em torno de 2 meses para elas produzirem e incubarem os ovos dentro dela). Isso significa que ao longo de suas vidas, as Baratas do Suriname podem tranquilamente produzir cerca de 2 ootecas sem problemas. A 1º ooteca sendo produzida na metade de suas vidas (2 meses), e a 2º ooteca no final de suas vidas (3 meses e 26 dias, praticamente 4 meses). A produção de 3 ootecas pelas Baratas do Suriname só vai ocorrer em condições ideais, que é quando elas vivem em um ótimo local e recebem comida de qualidade. Nessas condições, elas vão viver mais tempo (acima dos 5 meses), e vão produzir as ootecas em um tempo mais curto (menos de 2 meses). 
Como as Baratas do Suriname se reproduzem por Partenogênese Automítica (Partenogênese Telítoca), isso significa que cada barata coletada é uma potencial reprodutora para a colônia. 
Se você conseguir coletar 10 Baratas do Suriname, e se pensarmos que cada uma delas pode gerar em média 50 filhotes (isso com 2 ootecas), isso significa que em mais ou menos 10 meses você pode ter cerca de 500 baratas na sua colônia (10 x 50 = 500), um número e tanto, não ? 
Claro que isso num mundo ideal né ? Normalmente a gente sabe que nem todos os filhotes sobrevivem (muitos deles morrem até chegar a fase adulta, é normal), então vamos pensar numa possibilidade bem mais baixa. 
Vamos supor que você colete apenas 5 Baratas do Suriname, e que cada uma delas só produza cerca de 20 filhotes (2 ootecas – 10 filhotes por ooteca). Em mais ou menos 10 meses, você poderia ter cerca de 200 baratas na sua colônia (10 x 20 = 200). Esse é um número bem mais modesto, mas mesmo assim é bem alto se pararmos pra pensar que você começou com apenas 5 baratas. 
Isso porque estamos pensando na possibilidade de você coletar apenas baratas jovens, que vão levar mais ou menos 10 meses para reproduzir, mas e si você coletar ninfas já próximas de virarem adultas ? Vamos voltar a pensar naquela outra estimativa mais baixa (onde você coleta apenas 5 baratas). 
Se você coletar 5 baratas próximas de virarem adultas (cada uma delas produzindo 20 filhotes com 2 ootecas – 10 filhotes por ooteca), isso significa que em mais ou menos 5 meses (vamos chutar a metade do tempo), você poderia ter cerca de 200 baratas na sua colônia. Em um período de 10 meses, essas 200 baratas (produzindo cada uma 20 filhotes com 2 ootecas – 10 filhotes por ooteca) poderiam ter cerca de 2.000 filhotes no total (10 x 200 = 2.000), tudo isso em um intervalo de 1 ANO E MEIO. 
Por mais otimistas que sejam as minhas estimativas (na realidade esses números são sempre mais baixos né), eu acho que ainda sim vale apena investir na criação de Baratas do Suriname. 
Veja bem, você NEM VAI comprar as baratas (não terá custos com as baratas em sí) então o que custa tentar ? 

7 - Colônia de Baratas do Suriname – Cuidados Essenciais 
Agora chegou a parte onde a gente fala das práticas de manejo (ou seja, os cuidados que a gente vai ter com as baratas no dia a dia). 

Qual o melhor tipo de Alojamento ? 
Acredito que o alojamento mais prático, mais barato, mais resistente e mais acessível seja a nossa boa e velha Caixa Organizadora. Existem vários tipos de modelo, em várias cores e formatos diferentes. 
Essa caixa aqui (de 12 litros) custou cerca de 15 reais (isso no centro de Goiânia, porque aqui no meu bairro uma caixa desse tamanho deve estar custando uns 50 reais, um roubo). Ela tem 23 cm de largura, 33 cm de comprimento e 21 cm de altura. 



Coloquei a garrafa de refrigerante ao lado pra vocês terem uma referência do tamanho da caixa (já que todo sabe o tamanho que uma garrafa de 2 litros tem)
Quando for comprar a sua caixa, procure dar prioridade para os modelos foscos ou de cor escura (evite os mais transparentes, pois baratas detestam, ODEIAM luz). Mas lembre-se, procure dar prioridade a caixas mais altas. 
As Baratas do Suriname escalam que é uma beleza, mas nem se preocupe em comprar alguma coisa escorregadia pra evitar as fugas, porque não adianta, elas sobem em qualquer coisa (comprando uma caixa mais alta você dificulta um pouco as chances de fulga). Porém, apesar de poder escalar qualquer coisa, elas quase nunca fazem isso. São baratas MUITO medrosas, qualquer coisinha e elas já correm em direção ao chão para se esconder. 
Bom, mas voltando com o assunto do alojamento. A preparação do alojamento em si é bem simples, você só vai precisar de algum objeto cortante (para cortar a tampa da caixa), cola quente e de algum material que sirva como tela (vai permitir a ventilação e evitar a fuga das baratas). 

Na tampa você faz um corte no formato de quadrado (ou retângulo). Essas tampas geralmente são bem frágeis, então faça os cortes com delicadeza (se você usar muita força pra cortar a tampa pode acabar rachando ela inteirinha). 


Depois coloque a tela por cima (ou por baixo, eu coloquei por baixo) do corte que você fez. Eu usei como tela um tecido conhecido como Tule (aquele que é usado para fazer tela de mosquiteiro). Peguei o tecido, dobrei ele várias vezes e depois colei as bordas dele com cola quente e fita adesiva transparente (deixe o tecido bem esticado). Aqui o metro desse tecido custa 2,50 (é muito barato). 





NÃO INVENTE de ficar fazendo buracos na caixa organizadora. Se achar que precisa de mais ventilação, faça então um corte maior na tampa, mas não estrague a caixa fazendo vários furos nela (fazendo isso você vai permitir a entrada de insetos indesejados e a fuga das ninfas recém nascidas, que são minúsculas). 
Agora com a caixa pronta, é a hora de colocar o substrato. A minha ideia inicial era comprar fibra de coco para usar como substrato, mas ao invés de gastar dinheiro (que eu não tenho) com isso, resolvi usar aparas de grama, que são totalmente grátis (vou usar aparas de grama só por um tempo, depois vou substitui-la por fibra/pó de coco). 
Eu cortei a grama e deixei secar por vários dias no sol (pra me certificar de que não levaria nenhum outro bicho para dentro da caixa). Depois que a grama estava totalmente seca, eu repiquei as folhas com a mão (pra diminuir o tamanho delas) e dei uma LEVE umidificada nelas com um spray (é pra umidificar, não encharcar a grama). Terminado isso, forrei o fundo da caixa com uma camada generosa de grama (o cheiro de grama cortada que sai da caixa é delicioso). 
Agora chegou a hora de colocar as baratas na casa nova. As minhas baratas estavam guardadas em uma outra caixa, que é bem mais baixa que essa nova que eu comprei. Como substrato eu estava usando apenas folhas secas de Jacarandá Mineiro. De vez em quando eu colocava algumas verduras (tomate), ração (uso ração de coelho) e cereais (milho, aveia, etc.). Eu admito que não cuidava bem delas.

Se eu não me engano, coletei as baratas e as coloquei na caixa em fevereiro de 2019. Coloquei umas 3 baratas adultas (que achei no quintal) e 7 ninfas pequenininhas (que eu achei dentro de um vaso). Dia 01 de Junho de 2019 foi o dia que eu escolhi para fazer a mudança das baratas, e eu aproveitei esse dia para saber exatamente quantas baratas eu tinha depois de passado esses 5 meses. Para fazer a contagem, eu fiz meio que um processo de catação manual, colocava um pouco de substrato dentro de uma peneira e coletava todas as baratas que vinham com ele (coletava as baratas e colocava em um pote de sorvete depois). 
Eu devo ter ficado umas 3 horas fazendo isso (FOI UM SACO), mas acho que compensou. No final do processo, eu consegui contar um total de 104 baratas. Na caixa haviam adultos, ninfas grandes (que eram aquelas que estavam bem próximas de vivarem adultas) e ninfas pequenas (que estavam longe de virarem adultas). Pra ser mais exato, na caixa havia cerca de 6 baratas adultas, 22 ninfas grandes e 77 ninfas pequenas. 


terrário-para-barata-do-jardim
Tirar fotos na claridade é quase impossível. Essas baratas são muito medrosas e absurdamente rápidas quando correm, então é muito difícil tirar alguma foto delas

Só consegui tirar algumas fotos "razoáveis" quando coloquei elas no escuro


Não parece, mas apesar das baratas estarem bem grandes e gordas (são bichos super fofinhos, dá vontade de apertar kk), a situação delas era HORRÍVEL, DEPLORÁVEL, ABOMINÁVEL. 
Elas estavam incrustadas de ácaros pelo corpo (e quando digo incrustadas, é no sentido literal mesmo, eles estavam presos no corpo das baratas), em TODAS ELAS. 
Se você reparar bem, vai ver pequenas manchas cinzas na lateral do corpo da ninfa. Essas manchas são ácaros agrupados
Na maior parte das baratas que peguei, os ácaros estavam grudados mais nas laterais do tórax e abdômen delas, mas nos casos mais graves, eles cobriam totalmente o corpo delas (nem os olhos escapavam). Os adultos eram os que tinham mais ácaros, alguns nem se moviam direito de tantos ácaros grudados nas pernas (me senti PÉSSIMO por ver aquilo, eu realmente fiquei com MUITA pena delas, deve ser agoniante viver com aquilo grudado no corpo). 
Existiam outros insetos vivendo na caixa (a maioria da ordem Dermaptera, que devem ter vindo com o substrato antigo, porque eu não coloquei ele no sol para secar na época) e todos aqueles que estavam com ácaros pelo corpo estavam se movendo muito devagar ou já estavam mortos (o que significa que esses ácaros são bem prejudiciais quando em grandes quantidades). Para explicar esse número absurdo de ácaros, eu só consigo pensar em 2 coisas: a localização da caixa e excesso de umidade. 
A caixa das baratas ficava em baixo de uma outra caixa, onde fica uma colônia de Tenebrio molitor. A caixa dos tenébrios sempre teve um pouco de ácaros, mas esses estão em uma quantidade tão minúscula que não faz mal a eles (a caixa dos tenébrios é seca, então eles não conseguem se multiplicar direito). Acredito que eles tenham saído da caixa dos tenébrios e entrado na caixa das baratas, onde encontraram um clima favorável e se multiplicaram (a caixa das baratas era bem úmida). 

Minha colônia de Tenebrio molitor. Já tenho essa colônia a anos.
Como aprendizado, vou passar a deixar a caixa das baratas BEM LONGE da caixa dos tenébrios. Também vou deixar a caixa das baratas menos úmida (acredito que uma umidade mais baixa deva ser bem menos prejudicial do que uma infestação de ácaros). 
Se as baratas conseguiram se multiplicar vivendo em condições tão ruins assim (104 baratas em um período de 5 meses, tudo isso partir de apenas 10 baratas coletadas), acredito que a partir de agora, na caixa nova, elas vão se desenvolver de maneira bem mais acelerada. As Baratas do Suriname realmente são espécies bem resistentes, não é a toa que atualmente consigam viver em todos os continentes. 

Temperatura, Substrato e Umidade 
Como eu disse anteriormente, as Baratas do Suriname ocorrem em todos os continentes (com exceção da Antártida), e isso significa que elas conseguem sobreviver em quase todo tipo de lugar (florestas temperadas, florestas subtropicais, florestas tropicais, savanas, chaparral, etc.). 
Entre os diferentes climas existentes, o tropical é de longe o melhor tipo para o desenvolvimento dos insetos (calor e umidade em abundância), e isso torna o Brasil um país privilegiado, porque ele está localizado justamente na zona que corresponde ao clima tropical (na verdade, é o maior país do mundo localizado na zona tropical), e isso significa que não importa em que região do Brasil você esteja, você muito provavelmente vai ter o clima adequado para poder cuidar das Baratas do Suriname (e de qualquer outro tipo de barata brasileira). Quem provavelmente vai ter dificuldades na criação de Baratas do Suriname é o pessoal que vive acima de 1.000 metros de altitude, lá nas regiões mais ao sul do país, onde o clima costuma ser bem mais frio. 
Quanto mais forte é o tom de azul, mais tropical é o clima
Fonte
Na maior parte das pesquisas que foram feitas usando as Baratas do Suriname, elas sempre eram mantidas em uma temperatura de 25ºC, o que significa que provavelmente essa deve ser a melhor temperatura para se criar essa espécie, mas não se preocupe com isso, elas podem sobreviver a uma grande variação de temperatura (em laboratório, uma colônia mantida a 24ºC chegou a enfrentar até - 2ºC). 
Agora os cuidados com relação a umidade devem ser levados mais a sério. Em laboratório, as baratas eram criadas numa faixa de umidade que variava de 50% a 70%, então se você mora em uma região mais seca (Cerrado, Caatinga), deve tomar mais cuidado com a sua colônia, e felizmente o substrato vai te ajudar muito nesta questão. O substrato vai desempenhar a função de manter a umidade dentro da colônia, além de permitir o comportamento de escavação das baratas (já que essa é uma espécie escavadora). Mas então qual tipo de substrato eu devo usar? 
Quando se trata de baratas, os melhores tipos de substrato são aqueles que tentam simular o que as baratas normalmente encontrariam na natureza (que geralmente é a serrapilheira). Você pode usar a própria serrapilheira como substrato ou utilizar outra coisa para simular isso, como a fibra/pó de coco, maravalha, serragem, casca de pinus triturada, etc.).
O pó de coco é um substrato muito usado para orquídeas, então você vai conseguir encontrar ele em qualquer lugar que trabalhe com a venda de plantas
Fotos de Kevin
Para fazer a serrapilheira, basta pegar um pouco de folhas mortas e tritura-las até elas chegarem a um tamanho mais fino. Lembre-se de colocar todas as folhas ao sol antes de fazer isso (deixe por vários dias, assim você vai conseguir matar qualquer outro inseto ou ácaro que esteja escondido nas folhas). Fazer isso dá um pouquinho de trabalho, mas compensa. Eu fiz isso com as aparas de grama. 
Para molhar o substrato (seja lá qual for o que você use) basta pegar um spray, colocar água e pulveriza-la por cima dele. NADA de exageros, viu ? As baratas gostam de ambientes úmidos, mas ODEIAM ambientes encharcados. Fique atento com relação aos ácaros, se você notar pontinhos brancos nas baratas é sinal que eles estão se multiplicando de mais, e ai é hora de umidificar menos a colônia. 
Agora, como saber se o substrato está úmido ? Peque uma tampa de plástico transparente e coloque ela dentro do alojamento das suas baratas. Se o substrato estiver úmido, a umidade vai se condensar na parte de baixo da tampa, e observando a quantidade de gotículas de água que vão se formar (vai dar pra ver devido a transparência da tampa) você vai conseguir ter uma ideia de como está o grau de umidade da colônia. Só umedeça o substrato se você levantar a tampa e não observar nenhuma gotícula de água. 
Eu aproveito essa tampa para colocar a comida das baratas (a comida demora beeeeem mais tempo para mofar se ficar longe do substrato úmido)
E por último, não é preciso colocar objetos com água para as baratas beberem (elas vão se afogar neles), só a umidade do ambiente e dos alimentos (elas podem retirar água de qualquer tipo de comida) já é o bastante. 

Alimentação 
Falando de maneira bem simplificada, as baratas basicamente são insetos detritívoros, com alta preferência por alimentos ricos em celulose (folhas, galhos ou madeira, alimentos difíceis de digerir). Pra ajudar na digestão, elas têm uma quantidade gigantesca de microrganismos vivendo nos seus intestinos. Eles ajudam a quebrar a lignina e a celulose dos produtos vegetais e liberam alguns nutrientes para serem absorvidos pelas baratas. 
Em seu ambiente natural (que pode ser o seu habitat nativo lá na Ásia ou até mesmo aqui, no jardim na casa de uma pessoa) as Baratas do Suriname costumam se alimentar da própria serapilheira (ou seja, são capazes de viver comendo apenas o material vegetal que está morto ou que já foi parcialmente decomposto pelos fungos), mas elas também são capazes de se alimentar de plantas verdes, frutos, fezes e carcaças de animais mortos (ou seja, podem comer qualquer coisa). 
Serrapilheira cobrindo o solo de uma floresta
Fotos feitas por mim quando caminhava pela trilha do Parque Estadual de Paraúna, localizada no município de Paraúna de Goiás
Só pra vocês terem uma ideia do que significa comer “qualquer coisa”, em alguns experimentos os pesquisadores alimentavam as colônias de Barata do Suriname com APENAS Humus de Minhoca (aquilo que a gente usa pra adubar horta), ou Cama de Galinha (material feito de uma mistura de palha de arroz, serragem, fezes de galinha e penas). 
Tudo bem então, elas podem comer qualquer coisa, mas o que seria o melhor para oferecer pra elas? Pra acelerar ao crescimento e reprodução ? 
Cereais são boas fontes de proteínas, carboidratos e fibras, então são um ótimo alimento para se oferecer. Faça uma mistura de flocos em geral (aveia, milho, trigo, etc.) e vá usando como uma espécie de ração (coloque em um potinho, e deixe elas irem comer, quando acabar, você coloca mais). 
Antes de colocar qualquer cereal no alojamento das baratas, primeiro esquente eles dentro de uma panela, tudo bem ? Coloque os cereais dentro de uma panela e coloque no fogo por 1 minuto. Infelizmente esses alimentos tem uma tendência MUITO GRANDE de estarem contaminados com ácaros, e leva-los para a colônia sem nenhuma higienização é muito ariscado. Felizmente, acabar com eles também é muito fácil, já que morrem quando expostos em altas temperaturas, como a do fogão (não coloque no micro-ondas viu ? Por incrível que pareça muitos organismos resistem a radiação do micro-ondas). 
Também da pra usar rações já prontas, como ração de peixe, ração de gato, ração de codorna, ração de coelho, pintinho, etc., a que for mais viável pra você comprar (em um experimento de laboratório, uma colônia era alimentada com ração de cachorro sabor galinha, e se não me engano ela durou cerca de 10 anos). Normalmente essas rações são bem limpas, e não tem a presença de ácaros, mas mesmo assim eu esquento elas no fogão (principalmente a de coelho). 
Ração de Coelho e Berinjela, elas adoram
Com relação aos vegetais, procure utilizar verduras ao invés de frutas (cenouras, Jiló, etc.). Eles geralmente têm menos água na sua composição, então demoram mais para apodrecer (elas poderiam comer os vegetais podres também, mas acontece que atrai muitas moscas, e você não vai querer isso na sua colônia – isso sem falar que elas não comem alimentos mofados). 
Pra finalizar, eu digo que NÃO PODE FALTAR alimentos ricos em celulose na sua colônia (folhas, galhos ou madeira parcialmente decomposta), a colônia não cresce sem se alimentar disso. Se você vai criar suas baratas em fibra/pó de coco, aparas de grama, serragem, casca de pinus triturada, etc., então nem precisa se preocupar, pois as baratas vão comer esses materiais com o tempo (isso mesmo, até o próprio substrato é fonte de comida), mas se você quiser adicionar folhas secas (ou até mesmo papelão molhado) não tem problema. 

Vídeos para inspirar 

Colônia de Barata do Suriname (Pycnoscelus surinamensis)

Colônia de Barata do Suriname (Pycnoscelus surinamensis)


Colônia de Barata do Suriname (Pycnoscelus surinamensis)


Alimentando Baratas do Suriname (Pycnoscelus surinamensis) com banana


Alimentando Baratas do Suriname (Pycnoscelus surinamensis) com ração 


8 - Existem outras espécies de baratas que podem ser usadas como Alimento Vivo ? 
Macho de Petasodes dominicana 
Fotos de @victorchavesmachado
Existem mais de 644 espécies de baratas que podem ser encontradas aqui no Brasil, e mais de 70 dessas espécies podem ser usadas como alimento vivo (ou até mesmo serem criadas como animais de estimação). Se você quer conhecer mais a respeito dessas espécies Brasileiras, basta clicar nesse link aqui Baratas Nativas do Brasil – Animais de Estimação e Alimento Vivo


Referências


Comentários

  1. Quantas informações, parabéns pelos detalhes! Encontrei seu blog procurando o contrário, como eliminar as baratas, ou fazer com que elas migrem para outro lugar (não gosto de matar insetos, só mosquitos). Aqui em casa, nós temos o costume de colocar matéria orgânica direito nos vasos daí começaram a aparecer umas e realmente elas são bonitinhas (as que não voam). Porém já são tantas que vira e mexe entram em casa e as que tem asas aparecem do nada.

    Se alguém de SP quiser, tenho um monte kkkk.

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    Respostas
    1. Muito obrigado jovem 😊. Mas em, elas realmente se multiplicam muito rápido né ? kkk. Espero que consiga resolver essa questão, boa sorte.

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  2. Coloque duas camadas de caixas de ovos de papelão encaixada uma sobre a outra dentro da caixa organizadora. As baratas irão adorar se esconder entre elas.

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  3. Se alguém de Recife tiver interesse, tenho uma criação espontânea pra doar. Basta responder ao comentário. (não vai ficar por muito tempo aqui)

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  4. Respostas
    1. De nada Lucas, e muito obrigado <3. Espero ter te ajudado de alguma forma :)

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  5. Caraca, procurei cobre e achei ouro. Quanta informação! Eu fui obrigado a comentar. Continue assim!!!

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