Capim dos Pampas (Cortaderia selloana) - Plantas Ornamentais Nativas

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Touceira Cespitosa Ereta do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)
Foto de mon_sofia


Esse guia é uma continuação da publicação: "Guia Ilustrado - Identificação de Capins Nativos Ornamentais".


Pra entender os termos botânicos utilizados nessa publicação, é preciso ler primeiro o guia de identificação. 

Identificação

(1) Possui colmos ramificados apenas na base e o rizoma está ausente;
(2) As folhas não tem dimorfismo foliar, são todas parecidas, com formato linear e sem pelos (tricomas). As folhas são rígidas, com aspecto de couro (coriáceas) e as margens tem uma textura áspera/cortante (margem escabra). A lígula é ciliada ou franjada.
(3) A inflorescência é uma panícula aberta, e a panícula é densamente florida (panícula plurifloral). Os pelos da gluma lema que dão a aparência peluda/plumosa a panícula.
(4) O 1º par de glumas (glumas inferiores e superiores) têm tamanhos similares, ou seja, são subiguais. O 1º par de glumas possui uma forma de lança (glumas lanceoladas), são brilhantes e transparentes (hialianas).
(5) O 2º par de glumas (especificamente a gluma lema) também possui formato de lança (lema lanceolado), é aristado (ou seja, possui aristas) e pode possuir uma coloração púrpura, pálida ou ser transparente (hialiana). É a gluma lema que dá a coloração a panícula.

Plantas grandes e robustas, geralmente alcançam entre 1 a 3 metros de altura (algumas variedades chegam aos 4 metros). Possuem um crescimento Cespitoso Ereto (ou seja, formam uma touceira, e uma touceira bem densa). As touceiras podem atingir um diâmetro de 2 a 3 metros.
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Touceira Cespitosa Ereta do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)


As lâminas foliares possuem entre 60 cm a 2 metros de comprimento, com 3 a 12 mm de largura.
Folhas do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)
Foto retirada do site “plantasflores.net




Folhas do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)
Balneário Camboriú, Santa Catarina, Brasil
Fotos de Alexandre Medeiros, retiradas do grupo do Facebook “DetWeb



Folha do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)
Foto de Harry Rose

A panícula no total possui entre 25 cm a 1 metro de comprimento em média.
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Panícula recém formada do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)
Foto de Harry Rose

Espiguetas do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)
Foto retirada do site “www.alabamaplants.com


As raízes laterais podem se espalhar por até 4 metros de diâmetro e 3,5 metros de profundidade.


Taxonomia e Habitat

Todos os capins pertencem a família Poaceae (se lê, “Poace”), mas essa família está dividida em várias subfamílias e tribos diferentes. Cada tribo possui suas próprias características, e capins que compartilham a mesma tribo possuem muitas características parecidas. O gênero Cortaderia pertence a tribo Danthonieae (se lê, Dantonie), e essa tribo pertence a subfamília Danthonioideae (se lê, Dantonioide). O gênero Cortaderia ocorre principalmente nos países da América do Sul. As únicas espécies fora da América do Sul ocorrem na Nova Zelândia (4 espécies) e Nova Guiné (1 espécie). No Brasil podem ser encontradas 4 espécies do gênero Cortaderia, 2 delas completamente endêmicas (ou seja, só existem aqui).

Aqui na América do Sul, as espécies desse gênero são encontradas em lugares com clima tropical, subtropical e temperado. Raramente são encontradas em climas mais secos (desertos). Essas espécies costumam ser encontradas em regiões mais úmidas, principalmente próximas a cursos d’água, onde habitam solos mais arenosos, com pH ácido e baixa fertilidade natural.
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Capim dos Pampas (Cortaderia selloana) crescendo as margens de um lago

Os solos que geralmente apresentam essas características são: Espodossolos, Neossolos, Gleissolos, etc. (clique no nome do solo pra saber mais sobre ele). As espécies desse gênero são perenes, algumas possuindo ciclo estival (entram em dormência em épocas mais quentes), e outras possuindo ciclo hibernal (entram em dormência em épocas mais frias).

No Brasil, o Capim dos Pampas (Cortaderia selloana) pode ser encontrada habitando as seguintes vegetações: Cerrado (principalmente o Campo Limpo), Pampa, Campos de Altitude, Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica), Floresta Ombrófila Mista (Floresta de Araucária), Restinga e áreas perturbadas.


Utilização no Paisagismo

O Capim dos Pampas Brasileiro (Cortaderia selloana) e o Capim dos Pampas Andino (Cortaderia jubata) são as espécies mais ornamentais do gênero (eu diria que são uma das plantas mais bonitas do mundo). As panículas possuem uma coloração que varia do quase branco ao caramelo. As panículas maiores e mais peludas/plumosas possuem colorações mais claras, já as panículas mais finas e menos peludas/plumosas possuem tons mais escuros, puxando para o amarelo queimado.
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Panículas claras do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)


Panículas escuras do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)

Antigamente (nas décadas de 1960 e 1970) as panículas eram muito utilizadas para decoração interna de residências, mas atualmente devido ao seu forte aspecto ornamental elas são utilizadas em todo tipo de decoração, estando presentes em cenários de fotografia ou até mesmo casamentos. As panículas também podem ser comercializadas para a confecção de espanadores e arranjos florais secos, nas chamadas “feiras de arte”.
Cerimônia decorada com as panículas do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)
Foto de Minna Blooms



Arranjos utilizando as panículas do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)


Arranjos utilizando as panículas do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)


Ensaio fotográfico utilizando as panículas do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)


Arranjos utilizando as panículas do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)
Foto de Paloma Lily

Atualmente existem DIVERSOS cultivares diferente do Capim dos Pampas, cada um deles com características únicas. Vários já foram premiados internacionalmente por suas características ornamentais. Esses cultivares vocês podem encontrar no site "Royal Horticultural Society".

Cultivo do Capim dos Pampas

Reprodução

Normalmente a maioria dos capins são Monóicos, então cada indivíduo consegue produzir estruturas masculinas e femininas na mesma flor (ou seja, cada planta é macho e fêmea ao mesmo tempo). Se uma mesma planta possui anteras (que produzem o pólen) e o ovário (que dará origem a semente) isso significa que ela pode se reproduzir sozinha (se autopolinizando pra gerar sementes).

Diferente da maioria dos capins, o Capim dos Pampas (Cortaderia selloana) é uma espécie Dióica. Espécies dioicas possuem os sexos separados, então existem plantas fêmeas e existem plantas machos. Se os indivíduos fêmeas não forem polinizados por indivíduos machos, nunca vão produzir sementes (a polinização ocorre pelo ar, o pólen é levado até a panícula por meio dos ventos). Então se você quer produzir sementes dessa espécie, precisa ter plantas machos e fêmeas à disposição (plantas isoladas dificilmente vão produzir sementes). As sementes são produzidas no final do verão e início do outono, e quando estão maduras são dispersadas pelo vento. Cada planta é capaz de produzir cerca de 106 sementes viáveis em média (lembre-se que nem todas as sementes produzidas por capins são viáveis para a germinação).

O Capim dos Pampas (Cortaderia selloana) também pode ser Ginodiódica, que é quando a planta possui os dois sexos na mesma planta, porém apenas um deles é funcional (ou seja, a planta produz anteras e ovários, mas apenas uma dessas estruturas costuma ser funcional). Dessa maneira a planta é funcionalmente dioica, porém como ela possui estruturas masculinas e femininas na mesma planta, pode ser difícil de identificar se a planta é funcionalmente macho ou fêmea. Normalmente plantas fêmeas produzem estruturas masculinas reduzidas ou defeituosas, e plantas machos também produzem estruturas femininas reduzidas ou defeituosas. Dessa maneira podemos analisar a planta e verificar se ela é funcionalmente macho ou fêmea. Às vezes pode acontecer de uma planta funcionalmente macho gerar sementes (afinal, a planta possui ovários), mas essas sementes não costumam ter boa qualidade, sendo mais difíceis de germinar. Se for coletar sementes, tente coletar sementes de plantas funcionalmente fêmeas.

Essa é uma das principais diferenças entre o Capim dos Pampas Brasileiro (Cortaderia selloana) e o Capim dos Pampas Andino (Cortaderia jubata). Visualmente as plantas são idênticas, sendo difícil de fazer a diferenciação por fotos, mas sexualmente elas são bem diferentes.
Capim dos Pampas Andino (Cortaderia jubata)


O Capim dos Pampas Andino é uma espécie partenogenética, e espécies que fazem partenogênese fazem reprodução assexuada (ou seja, não é preciso ter machos e fêmeas para gerar filhotes/sementes). As sementes são geradas de embriões que não precisam ser polinizados, ou seja, nas espécies que se reproduzem por partenogênese, o macho não é necessário (muitas vezes ele nem existe), só as fêmeas já são suficientes pra manter as populações na natureza. Esse é justamente o caso do Capim dos Pampas Andino (Cortaderia jubata), todos os indivíduos são fêmeas e se reproduzem por partenogênese do tipo Apomítica, gerando sementes que são clones geneticamente iguais a planta mãe.

Se você possui apenas uma muda de Capim dos Pampas, e ela dá sementes mesmo estando completamente isolada, existe a possibilidade dela ser na verdade um Capim dos Pampas Andino.

A título de curiosidade: cuidado pra não confundir o Capim dos Pampas (Cortaderia selloana) com a Grama Ravena, também conhecida como Falso Capim dos Pampas (Tripidium ravennae, antigamente sendo conhecido também por Saccharum ravennae).
Grama Ravena ou Falso Capim dos Pampas (Tripidium Ravennae)

A Grama Ravena ou Falso Capim dos Pampas não é nativa do Brasil, ela é nativa da Europa e Ásia. Diferente do Capim dos Pampas, ela é uma planta monóica e forma uma grande rede de rizomas abaixo da superfície. Ela também possui folhas mais finas, menos cortantes e com uma grande nervura central branca. As panículas também são menos vistosas, aparentando serem menos peludas/plumosas em relação ao Capim dos Pampas.


Germinação das Sementes

Diferente dos capins do gênero Aristida (se não viu a publicação sobre eles, de uma olhadinha depois - "Capim Aristida - Plantas Ornamentais do Cerrado"), o Capim dos Pampas (Cortaderia selloana) não apresenta muita dificuldade pra germinar. Essa espécie está adaptada para germinar em diferentes condições ambientais. Porém, as melhores condições para a germinação estão associadas com alta umidade, sombra e substrato arenoso.
Sementes do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)
Foto retirada do site “cdn.wikifarmer.com


Pesquisas feitas em laboratório constataram que a taxa de germinação das sementes expostas a 100% de luz é muito boa, porém essa taxa aumenta 16,2% quando as sementes recebem algum tipo de sombreamento. Então as sementes gostam de sombra parcial para germinar.

Pesquisas também constatam que as sementes são capazes de germinar em uma ampla gama de substratos/solos. Elas podem germinar tanto em substratos argilosos como em substratos arenosos, porém as sementes mostram maior preferência para germinar em substratos arenosos. Foi constatado que essa espécie costuma formar populações em áreas cujo o solo possui mais de 60% de areia na sua composição.

Outras pesquisas mostram que a falta de água não afeta severamente a germinação das sementes. Depois que a rega do substrato era cessada, muitas sementes continuaram viáveis por várias e várias semanas, o que significa que podem aguentar períodos de seca durante a germinação. Porém, é bem claro que as sementes preferem germinar quando a umidade é mantida de forma constante por muito tempo.


Crescimento das Mudas

Como e já falei anteriormente, o Capim dos Pampas (Cortaderia selloana) costuma ser encontrada em regiões mais úmidas, principalmente próximo a cursos d’água, onde habita solos mais arenosos, com pH ácido e baixa fertilidade natural. Apesar das plantas crescerem nessas condições em ambiente natural, elas não precisam ser cultivadas dessa maneira.

Inicialmente as mudas realmente preferem solos arenosos, com muita umidade disponível e sombra parcial para crescer, porém isso é até o seu estabelecimento. Depois que as mudas já se encontram totalmente estabelecidas, elas passam a ficar muito tolerantes a uma ampla gama de condições ambientais.
Mudas do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana)


Elas se tornam muito tolerantes a diferentes tipos de substratos, inclusive respondem muito bem quando são adubadas com nitrogênio (as mudas quando bem cuidadas podem florescer com cerca de 3 anos de idade). Elas também passam a aguentar muito bem a seca, seja ela moderada ou mesmo severa (eu já vi plantas sendo cultivadas em pleno deserto chileno). Também respondem muito bem quando são expostas a altas temperaturas ou baixas temperaturas (geadas). Também suportam muito bem o excesso de luz, bem como o excesso de sombreamento (mas ai a floração pode ser prejudicada).
Panículas do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana) cobertas pela neve
Foto de jhenning


É por conta dessa grande resistência a diferentes condições que podemos encontrar o Capim dos Pampas crescendo em todo tipo de lugar aqui no Brasil, principalmente em áreas perturbadas. Inclusive essa resistência é a principal diferença entre o Capim dos Pampas Brasileiro (Cortaderia selloana) e o Capim dos Pampas Andino (Cortaderia jubata).

Visualmente essas duas espécies são praticamente idênticas, sendo difícil de fazer a diferenciação por fotos, porém fisiologicamente as plantas são bem diferentes. Cortaderia selloana é muito mais adaptável que Cortaderia jubata. As mudas de Cortaderia selloana são muito mais resistentes a falta e ao excesso de água (inundações) do que em comparação com as mudas de Cortaderia jubata (essa espécie é mais sensível, preferindo ambientes úmidos e bem mais estáveis).

Ocorrência e Problemas Ambientais

O Capim dos Pampas (Cortaderia selloana) é nativo do Brasil, porém não é endêmico. Ele pode ser encontrado em países como a Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai e Bolívia. No Brasil ele pode ser encontrado na região Centro-Oeste (Distrito Federal), Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo) e Sul (Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina). As coletas dessa espécie feitas no Distrito Federal são resultantes de pequenas introduções humanas (não sei por qual motivo tentaram introduzir essa espécie lá).

O Capim dos Pampas nativo do Brasil (Cortaderia selloana) e o Capim dos Pampas Andino (Cortaderia jubata) foram introduzidos em vários países do mundo como plantas ornamentais, mas acabaram virando um grande problema nessas regiões, pois se tornaram espécies exóticas invasoras.

Elas invadem áreas onde a vegetação silvestre está instalada, e por competição direta expulsam grande parte das espécies nativas do local, acabando por formar grandes populações que dominam totalmente a área. Primeiramente a diversidade de plantas do local diminui, e posteriormente a biodiversidade de organismos como um todo é reduzida.
Área sendo invadida pelo Capim dos Pampas (Cortaderia selloana) nos Estados Unidos
Foto de Niall Moore

O Capim dos Pampas foi introduzido pela primeira vez na Europa entre 1775 e 1862, sendo cultivado primeiramente no Reino Unido. Posteriormente a espécie acabou se espalhando para outros países do continente, como Irlanda, Portugal, Espanha, França e Itália. Atualmente a comercialização da espécie é proibida, porque a espécie já se alastrou por toda a região da bacia do mediterrâneo e está ameaçando os capins nativos da região, como a Grama Ravena ou Falso Capim dos Pampas (Tripidium ravennae). Atualmente o Capim dos Pampas também ocorre extensivamente na Austrália, Nova Zelândia (onde também foi proibida), no arquipélago do Havaí, África do Sul e Estados Unidos (no sul da Califórnia é considerada a planta mais invasora dos últimos 50 anos).

Um dos métodos para controlar o Capim dos Pampas é a remoção manual de suas touceiras.

Controle do Capim dos Pampas (Cortaderia selloana) em Portugal
Cantanhede, Coimbra, Portugal


Outras espécies de capins ornamentais nativos


Identificando capins ornamentais nativos



Referências


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