Capim Rabo de Burro – Identificação de Plantas Ornamentais Nativas
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Inflorescência em Ramos do Capim Rabo de Burro (Andropogon bicornis) Foto feita por mim durante visita ao Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN) Caldas Novas, Goiás, Brasil |
Esse guia é uma continuação das publicações: (1) "Guia Ilustrado - Identificação de Capins Nativos Ornamentais" e (2) Capim Rabo de Burro (Andropogon bicornis) - Plantas Ornamentais Nativas
Inflorescência em Ramos da Tribo Andropogoneae
Todos os capins pertencem a família Poaceae (se lê, “Poace”), mas essa família está dividida em várias subfamílias e tribos diferentes. Cada tribo possui suas próprias características, e capins que compartilham a mesma tribo possuem muitas características parecidas. A tribo Andropogoneae (se lê – Andropogone) é composta por gêneros de capins nativos do Brasil, como Andropogon e Schizachyrium. Esses gêneros são famosos por conta de suas espécies, que são chamadas popularmente de “Capim Rabo de Burro”.
Como eu já falei anteriormente, uma inflorescência nada mais é que um conjunto de flores. Nos capins, essa inflorescência vai ser composta por um conjunto de espiguetas. Dependendo de como essas espiguetas estão localizadas/organizadas/ramificadas no corpo da planta, a inflorescência vai receber diferentes nomes.
A tribo Andropogoneae possui inflorescências muito, muito, muito, mas MUITOOOOOO complexas MESMO. A raque (que é um tipo especial de colmo) e as espiguetas (que são as unidades reprodutivas básicas dos capins) estão organizadas de uma forma que podem possuir (ao mesmo tempo) características de uma espiga, de um cacho (racemo) e de uma panícula, tudo isso na mesma inflorescência.
Como essa publicação é feita para o público leigo, vou fazer um resumo super mega simplificado de como essas inflorescências estão organizadas. As inflorescências em Ramos da tribo Andropogoneae estão organizadas da seguinte maneira.
(1) Inflorescência Básica
As espiguetas estão dispostas em panículas, e essas panículas lembram muito uma Panícula Especiforme. Temos um eixo central a (raque), e as subdivisões curtas que estão concentradas no topo do eixo. Normalmente existem duas subdivisões, mas podem ocorrer mais também. As espiguetas e as subdivisões da raque podem ser bem peludas (ricas em tricomas).
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Inflorescência em Panícula do Capim Colchão (Andropogon leucostachyus) Estação Ecológica do Jardim Botânico, Brasília, Brasil Foto de Mauricio Mercadante |
(2) Espiguetas com e sem pedúnculo
As espiguetas estão sempre aos pares na panícula, porém elas são diferentes entre si. Uma das espiguetas sempre vai estar ligada a raque de maneira indireta, ou seja, ela possui um pedúnculo de ligação. Já a outra espigueta sempre vai estar ligada a raque de maneira direta, não possuindo nenhum pedúnculo de ligação (ou seja, é séssil). Isso é um padrão da tribo Andropogoneae, são poucas as espécies que fogem disso (ou seja, que possuem duas espiguetas com pedúnculo).
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| Ilustração das Espiguetas da tribo Andropogoneae |
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Inflorescência do capim exótico Andropogon gerardii Modificação que eu fiz da foto tirada por D. L. Nickrent |
A flor (antécio) da espigueta que possui um pedúnculo pode ser duas coisas. Ela pode ser: (A) Flor neutra/estéril: não possui partes masculinas ou femininas, então não produz pólen e sementes; (B) Flor totalmente masculina: ou seja, só possui estames, e com isso só pode gerar pólen, nunca sementes.
Normalmente as glumas dessa espigueta nunca possuem aristas (ou seja, são múticas). As glumas inferior e superior (quando presentes) são geralmente muito duras/rígidas e cobrem totalmente a flor (que parece estar achatada). A gluma lema está presente, porém ela é transparente (no jargão técnico, dizemos que é “hialina”), sendo bem difícil de ver. A gluma pálea normalmente é ausente. Normalmente nos gêneros Andropogon, Elionurus e Schizachyrium, a flor da espigueta que possui um pedúnculo é geralmente masculina.
A flor da espigueta que não possui pedúnculo também pode ser duas coisas. Ela pode ser: (C) Flor frutífera: possui partes masculinas e femininas, então produz pólen e sementes; (D) Flor totalmente feminina: ou seja, só possui ovário, e com isso só pode gerar sementes, nunca pólen.
As glumas dessa espigueta podem ou não ter aristas, isso é bem variável dependendo da espécie. As glumas inferior e superior (quando presentes) também são muito duras/rígidas e cobrem totalmente a flor (que também parece estar achatada). A gluma lema e a gluma pálea estão presentes, e ambas são transparentes (hialinas). Normalmente nos gêneros Andropogon, Elionurus e Schizachyrium, a flor da espigueta que não possui pedúnculo é geralmente frutífera.
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| Ilustração dos padrões florais mais comuns dos gêneros Andropogon, Elyonurus e Schizachyrium |
Dependendo da espécie, podem existir flores rudimentares acompanhando as espiguetas. Geralmente dessas flores só conseguimos ver os pedúnculos. Em algumas espécies que possuem sementes dispersas pelo vento, esses pedúnculos rudimentares podem estar desenvolvidos pra ajudar a semente a ser carregada pelo vento.
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| Ilustração de alguns padrões florais encontrados no gênero Andropogon |
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Ilustração de alguns padrões florais encontrados no gênero Andropogon Ilustrações retiradas do artigo intitulado “Sinopse do gênero Andropogon L. (Poaceae -Andropogoneae) no Brasil” |
(3) Destacamento da Raque
As subdivisões que estão no topo do eixo central (ou seja, as subdivisões da raque) são divididas como se fosse um colmo comum. Cada subdivisão possui seus próprios nós e entrenós. As duas espiguetas estão localizadas juntamente nesses nós.
Depois que as flores (antécios) são polinizadas, e as sementes são produzidas, esses nós e entrenós se tornam frágeis, ficando bem articulados. Ao menor sinal de toque ou vento forte eles se quebram.
Dessa maneira as espiguetas acabam sendo liberadas junto com o entrenó da raque. Como as espiguetas estão localizadas na região dos nós, as glumas inferior e superior, juntamente com a gluma lema e pálea, caem todas juntas.
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| Ilustração do destacamento de uma panícula da tribo Andropogoneae |
(4) Formação de Ramos Floríferos
Como eu disse anteriormente, as espiguetas estão dispostas em panículas, e dependendo da espécie, uma só planta é capaz de produzir uma infinidade de panículas. Essas panículas individuais ficam todas juntas, organizadas em grupos, e cada grupo possui um número variável de panículas (espécies diferentes produzem quantidades diferentes). Cada planta pode ter vários e vários grupos de panículas.
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| Ilustração de um grupo de Panículas da tribo Andropogoneae |
Quando esses grupos de panículas estão reunidos, passam a ser chamados de “Ramos Floríferos”, e na base do ramo vamos ter uma folha especial modificada chamada de “Espatéola”. A espatéola é praticamente uma bainha (tem forma de cartucho e tem a função de envolver o ramo). Tem espécies que produzes apenas 1 ramo florífero por espatéola, já outras produzem 2 ramos floríferos por espatéola, isso é variável.
Por exemplo, o Capim Rabo de Burro da espécie Schizachyrium microstachyum, apresenta apenas 1 único ramo florífero por espatéola (como na ilustração logo abaixo). Já o Capim Rabo de Burro da espécie Andropogon bicornis apresenta 2 ramos floríferos por espatéola. A espatéola pode ser muito evidente (ou seja, é grande e chama atenção), ou pouco evidente.
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| Ilustração de um Ramo Florífero da tribo Andropogoneae |
Esses ramos floríferos podem estar localizados lateralmente no colmo da planta, ou podem estar concentrados no topo.
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Ramos Floríferos do Capim Colchão (Andropogon leucostachyus) Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil Foto de Luciano Pedrosa, retirada do grupo do Facebook “DetWeb” |
Outras espécies de capins ornamentais nativos
Referência
Essa publicação faz parte do: "Guia Ilustrado - Identificação de Capins Nativos Ornamentais". Todas as referências utilizadas aqui vão estar listadas lá no guia.
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