Solo, Terra e Substrato - Qual é a Diferença ?


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Semente do Ipê da Canga (Anemopaegma sp.) sobre o cascalho da Canga
Serra de Carajás, Pará, Brasil
Fotos retiradas do livro “Paisagens e Plantas de Carajás

O que é um Substrato ?

O termo substrato se refere a qualquer material que seja sólido e que ao ser colocado em um recipiente, vai permitir o desenvolvimento de uma determinada criação (animais) ou cultura (plantas). 
No caso do cultivo de plantas, esse material sólido pode ter origem natural (ex fibra de coco) ou sintética (ex espuma fenólica). Se esse material sólido for de origem natural, ele pode ser feito de minerais (ex areia de sílica) ou de materiais orgânicos (ex serragem). O importante é que, ao ser colocado em um recipiente (de forma pura ou misturada) ele vai desempenhar o papel de suporte para a planta. 
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Substrato de Fibra/Pó de Coco

Substrato de Espuma Fenólica
Foto tirada por @hidroponia_brasil

Substrato de Serragem
Foto de jacqueline macou, retirada do site Pixabay

Um bom substrato vai depender de qual planta você vai cultivar (não posso plantar um Cacto no mesmo substrato que eu plantaria um pé de Alface). Mas, apesar disso, um bom substrato sempre deve ter as seguintes características: 

1 - Consistência para suporte (ou seja, deve conseguir manter a planta em pé).
2 - Boa aeração (muito oxigênio em seus poros). 
3 - Boa permeabilidade (a água precisa passar por ele facilmente). 
4 - Poder de manter o pH estável (o substrato precisa manter o pH em um valor fixo constante). 
5 - Capacidade de retenção de nutrientes (precisa manter os nutrientes, quando estes forem adicionados). 
6 - Capacidade de reidratação após a secagem (ou seja, precisa absorver água, mesmo após ficar por um período completamente seco). 
7 - Ter alto teor de fibras resistentes à decomposição (isso permite que a estrutura do substrato se mantenha estável por mais tempo). 
8 - Estar isento de agentes causadores de doenças, pragas e sementes de plantas daninhas. 

A principal diferença do substrato para o solo é com relação a formação da sua estrutura. O substrato, assim como o solo, é um corpo tridimensional (isto é, possui comprimento, largura e profundidade), mas a forma como a estrutura do substrato surgiu é artificial. 

Com relação ao substrato, alguém foi lá, pegou o material sólido e colocou em um determinado recipiente, moldando a estrutura dele para permitir o desenvolvimento das plantas. É diferente da formação da estrutura do solo, que é formada de forma natural (no próximo tópico eu explico isso). 
Apesar disso, o solo também pode ser considerado como um tipo de substrato. Se você coletar qualquer parte do solo e colocar em um recipiente, automaticamente ele já vai se enquadrar na definição de substrato.


O que é o Solo ? O que é a Terra ?
A definição de solo sempre vai mudar dependendo de quem é que está falando dele. A definição de solo de um Engenheiro Civil não vai ser a mesma de um Pedólogo (o profissional que estuda os solos). Eu vou apresentar pra vocês a definição que está mais de acordo com o Pedólogo. 

Solo é um corpo tridimensional (ou seja, tem largura, comprimento e profundidade) que ocorre naturalmente na superfície da terra. Esse corpo é formado pela decomposição das rochas ou de algum outro produto que veio delas, e a função natural dele é suportar o desenvolvimento de seres vivos (animais, plantas, etc.). 

Terra é apenas um nome popular que a gente dá ao solo. Terra Vegetal (ou Terra Preta), por outro lado, não é um tipo de solo, e sim um tipo de substrato. Normalmente a Terra Vegetal é o resultado final do processo de compostagem. A compostagem (através da decomposição) produz um material super hiper mega concentrado em matéria orgânica, por isso a Terra Vegetal tem uma cor tão escura (quanto mais matéria orgânica, mais escuro o substrato fica). As pessoas chamam esse substrato de Terra Vegetal porque ele pode ser encontrado naturalmente na natureza, mas nesse caso ele faz apenas parte do solo, ele não é o solo em si. 
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Ilustração do Perfil de um Solo
Modificação que eu fiz da ilustração feita originalmente pelo Departamento de Agricultura dos EUA e que eu retirei do wikipedia.org
Assim como o substrato, o solo tem algumas características bem importantes e a gente precisa aprender sobre elas. 

O solo é um corpo imóvel 
O solo não se mexe, ele fica fixo no lugar dele. A partir do momento que ele sai do lugar ele é chamado de Sedimento. Por exemplo, quando ocorre um deslizamento de terra, aquele material que estava fixo lá no alto do morro era aquilo que a gente conhece como solo, mas a partir do momento que ele deslizou morro a baixo (ou seja, se moveu) ele já passa a ser chamado de sedimento. 
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Deslizamento de Terra
Foto de Fábbio Radke

O solo tem uma história de formação, que fica em ordem quando ele está imóvel. A partir do momento que ele é revirado essa ordem é quebrada, e a história da sua formação acaba se perdendo. 


O solo passa por processos Físicos, Químicos e Biológicos 
Apesar de ser imóvel, o solo não é um corpo estável, então ele sempre está mudando dependendo do processo que está acontecendo com ele. Ele pode passar por processos físicos, químicos e biológicos. Por exemplo: 

Processo Físico: se você passar com um trator por cima de uma plantação de alface você vai acabar destruindo os poros presentes no solo (além de destruir os pés de alface também, é claro). Se você destruir os poros, o ar não consegue mais entrar no solo, e com isso as raízes não conseguem mais respirar direito. Esse processo em que os poros do solo são destruídos é chamado de Compactação. 
Compactação do Solo
Foto retirada do slide “Compactação do solo: modelagem e aplicações”, feito por Moacir de Souza Dias Junior

Processo Químico: se você jogar Cal em um solo ácido você vai aumentar o pH dele (ele vai deixar de ser ácido e vai passar a ser neutro ou alcalino), e com isso você vai promover uma mudança química nele. Esse tipo de processo é chamado de Calagem. 
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Trator fazendo a Calagem
Foto retirada do site www.mapadaobra.com.br

Processo Biológico: se você jogar muitas minhocas no solo você vai acabar aumentando a porosidade dele (porque as minhas constroem muitos tuneis no solo), e com isso você vai aumentar a aeração do solo. Esse tipo de processo é chamado de Bioturbação. 
Bioturbação feita por uma Minhoca
Foto de Dwight Kuhn

Como o solo se Forma ? 
O solo nasce quando começa o Intemperismo, que é o processo responsável por quebrar e decompor as rochas para formar o solo. Além do próprio Intemperismo, existem alguns outros fatores que ajudam no processo de decomposição da rocha. 

Imagine a rocha como se fosse um grande pedaço de sabão, está bem ? Esses fatores (que eu vou explicar agorinha) funcionam como se fossem um ralador. Eles vão retirando pequenas lascas da rocha lentamente até acabarem com ela, e quando eu digo acabar com ela, estou querendo dizer que eles vão removendo os minerais que fazem parte dela. 
Analogia do ralo e o sabão
Foto da Lucy Mizael, retirada da sua receita onde ela ensina a fazer sabão de coco líquido caseiro

Quando os minerais que estão na rocha são liberados (ou seja, eles estavam presos em um corpo tridimensional e passam a ficar livres), se acumulam e são reorganizados novamente (deixam de ficar livres e voltam a forma um corpo tridimensional) eles formam aquilo que a gente conhece como solo. 

Existem 5 fatores que ajudam o intemperismo a decompor a rocha, são eles: (1) Clima, (2) Relevo, (3) Material de Origem, (4) Tempo e (5) Organismos


Clima 
Chuva, vento, temperatura, vários são os agentes que estão envolvidos com o clima. Pra ilustrar o nosso exemplo aqui, vou falar a respeito da temperatura. 

Quando as temperaturas variam muito, a rocha pode passar por um processo que a gente chama de Termoclastia. Quando as temperaturas estão altas, a rocha sofre um processo de dilatação, e quando a temperatura diminui, ela sofre um processo de contração. Se esse movimento de dilatar e contrair acontecer repetidas vezes durante muito tempo, a rocha pode acabar se fraturando (rachando). 
Rocha fraturada
Foto de Jim Peaco

Relevo 
A água da chuva (ação do clima) vai escorrer lentamente sobre uma rocha que está na horizontal (relevo plano), mas vai escorrer com muita velocidade se a rocha estiver na diagonal (relevo inclinado). 
Água escorrendo pela rocha
Foto retirada do tópico “Intemperismo e Pedogênese”, escrito por Maria Cristina Motta de Toledo

Quanto mais rápido a água escorrer, mais forte vai ser o poder que ela tem de remover os minerais da rocha. Quanto mais rápido os minerais forem removidos, mais rápido a rocha vai se decompor. 

Um exemplo bem didático desse processo foi o que aconteceu com as rochas calcárias da Reserva Natural Integral do Tsingy de Bemaraha, que fica em Madagascar. A ação constante da água escorrendo sobre a rocha criou uma superfície super afiada e pontiaguda. 

Rochas Calcárias depois de passar pelo processo de Intemperismo
Fotos retiradas do site "By the Seat of My Skirt"


Material de Origem 
O material de origem é a própria rocha. Existem aquelas que são mais moles e se decompõem rapidamente, e também existem aquelas que são mais duras e são difíceis de se decompor. 

Por exemplo, o Arenito (Rocha Sedimentar) é tão “mole” que consegue ser deformado até pela ação do vento. Por outro lado, o Granito (Rocha Ígnea) é super duro, é tão duro que consegue resistir a ação do intemperismo por muito tempo, por mais forte que ele seja. 
Arenito sendo desgastado pela ação do vento
Foto de George Steinmetz

Pão de Açúcar
rocha formada por Granito e Gnaisse
Rio de Janeiro, Brasil
Foto de Alex Petrenko

Tempo 
Tudo depende do tempo. Não é da noite para o dia que a rocha vai se decompor, esse processo pode levar milhares e milhares de anos para acontecer. Existem rochas no território Brasileiro (como aquelas da Serra do Espinhaço, Minas Gerais) que são dos tempos do Cambriano (542 milhões de anos atrás), e até hoje elas estão passando por processos de intemperismo. 
Trilobita, um fóssil do período Cambriano
Foto de Adolfo Beato

Organismos 
Os solos só passam a existir depois que os seres vivos passam a agir no processo. É por isso que o solo só pode existir onde existe a presença de seres vivos. Por exemplo, o planeta Marte não tem solo. Marte tem chão, crosta, superfície, tem TUDO o que você quiser, menos solo. O que existe em Marte, na Lua e em outros planetas, é apenas sedimento (Regolito, no termo mais técnico). Enfim, vamos voltar ao assunto principal. 

O solo é um corpo tridimensional, que é formado a partir de um outro corpo que não é tridimensional (os minerais que foram liberados da rocha). A função dos seres vivos é reorganizar esses minerais que foram liberados da rocha e dar estrutura pra eles. 
A partir do momento que esses minerais resultados do processo de Intemperismo voltam a formar um corpo tridimensional, o solo é finalmente é formado. Mas como os organismos fazem isso ? 

Eles podem fazer isso de várias maneiras. Vou dar um exemplo com um tipo de solo chamado de Neossolo Quartzarênico. O Neossolo Quartzarênico não é formado diretamente da rocha, e sim de um outro material que veio dela (o sedimento). Primeiro o Arenito (que é uma Rocha Sedimentar, mas poderia ser outra rocha também) passa pelo processo de Intemperismo, e os minerais que são liberados dessa rocha vão se acumulando e formando um sedimento arenoso que chamamos popularmente de Duna. 

Dunas formadas a partir do intemperismo do Arenito
Lagos de Ounianga, Chade, África
Fotos do viajante Boris Kester, retirada do seu site www.traveladventures.org

Dunas em Erg Chebbi
Marrocos, África
Foto de Rosino

As Dunas são móveis, então elas ainda não são um tipo de solo, mas apesar disso vários seres vivos conseguem viver sobre ela, e os seres vivos mais importantes no processo de formação de solos são as plantas. 

Quando as plantas começam a crescer sobre as Dunas, elas começam a formar um emaranhado de raízes para segurar as partículas de areia, e assim conseguirem se firmar. Com o passar do tempo, pouco a pouco a Duna vai deixando de ser móvel. 
Vegetação crescendo sobre a Duna
Lagos de Ounianga, Chade, África
Foto do viajante Boris Kester, retirada do seu site www.traveladventures.org

Capim Ammophila arenaria crescendo sobre a Duna
Grenen, Dinamarca
Foto de Malene

Depois que as plantas finalmente se estabelecem, vem os animais, continuando com o processo que as plantas começaram. Os animais agem fazendo um serviço de revolvimento. Eles abrem buracos nas Dunas, movimentando as partículas que estavam nas regiões mais profundas e trazendo para a superfície. 
Rato da Praia (Peromyscus polionotus)
Flórida, Estados Unidos
Foto de JB Miller

Nesse processo a água, ar e matéria orgânica passam a ser incorporados dentro da Duna (a matéria orgânica é incorporada no interior da Duna quando eles morrem de baixo da superfície). Todo esse processo acaba mudando a estrutura da Duna, que deixa de ser um simples sedimento arenoso sem organização, e passar a ser um corpo bem organizado. 
Neossolo Quartzarênico, um tipo de solo formado por sedimentos arenosos
Foto retirada do site do "Departamento de Agricultura dos Estados Unidos"

Mais que corpo organizado é esse ? Que estruturas o solo precisa ter para ser considerado organizado ? 

As estruturas que precisam existir dentro do solo são chamadas de Horizontes, e daqui a pouco eu vou falar sobre elas, mas antes eu preciso falar pra vocês a respeito dos minerais que existem dentro do solo. 

Que características o Solo tem ? 
Os solos possuem milhões de características diferentes, mas esse monte de informação a gente vai deixar para o pessoal que trabalha com solos (os Pedólogos). A gente aqui vai se concentrar naquelas características que são mais fáceis de serem observadas (pra mim, essas são as mais importantes). 


Tipos de Minerais 
As rochas são formadas por minerais, e esses minerais podem ser identificados por conta da sua estrutura interna. Quando os minerais ainda estão bem preservados (isto é, ainda não passaram pelo processo de Intemperismo) eles apresentam uma forma cristalina característica, e é a partir dessa forma cristalina que podemos identifica-los, porque formas cristalinas diferentes vão possuir características (ex cor) e propriedades diferentes (ex textura, dureza, etc). 

Os principais minerais que nós podemos encontrar no solo são: 

Minerais Carbonatos 
São os principais minerais responsáveis por liberar Cálcio e Magnésio no solo (porque esses minerais tem muito cálcio e magnésio na sua composição molecular). Eles são típicos de regiões mais secas, onde conseguem resistir ao Intemperismo por mais tempo. Em regiões mais úmidas eles são decompostos facilmente, sendo mais difíceis de serem observados. 

São originados principalmente de Rochas Sedimentares, como o Calcário, Rochas Metamórficas, como o Mármore, ou Rochas Ígneas, como o Carbonatito. Regiões que tem muita concentração de rochas calcárias a gente chama de “Relevo Cárstico”. São justamente nesses lugares onde as cavernas são formadas. 
Rochas formando o Relevo Cárstico
Reparem a quantidade de buracos feitos pela ação do intemperismo

Acredito que essa rocha seja um tipo de Mármore (to chutando mesmo)
Foto de Hugo Soria
Rocha Calcária formando Relevo Cárstico
Bom Jesus da Lapa, Bahia, Brasil
Fonte

Rocha Calcária formando Relevo Cárstico
Pains, Minas Gerais, Brasil
Foto de Mariana Barbosa Timo





Caverna formada no Relevo Cárstico
Fotos feitas por mim durante visita ao Parque Estadual de Paraúna
Paraúna, Goiás, Brasil

Um exemplo de mineral carbonático são a Calcita, Dolomita e a Aragonita. Solos ricos em Calcita, Dolomita e Aragonita tem um pH neutro ou alcalino. 
Mineral Calcita
Foto de Robert M. Lavinsky

Mineral Dolomita
Foto de Didier Descouens

Mineral Aragonita
Foto de Robert M. Lavinsky


Minerais Óxidos e Hidróxidos 
São os principais minerais responsáveis por liberar Ferro e Alumínio no solo. Eles ocorrem em lugares quentes e úmidos, sendo encontrados principalmente em solos mais antigos. 

São originados principalmente de Rochas Ígneas, como o Basalto, o Gabro, etc. 
Rocha formada por Basalto
Fonte

Rocha formada por Gabro
Esse morro é chamado de Rocha Zuma
Estado de Níger, Nigéria
Foto de Jeff Attaway

Os óxidos mais bem conhecidos são a Hematita, a Magnetita e a Goethita. Solos ricos em Hematita, Magnetita e Goethita tem um pH ácido.
Mineral Hematita
Foto de Robert M. Lavinsky


Mineral Magnetita
Foto de Robert M. Lavinsky

Mineral Goethita
Foto de Eurico Zimbres

Minerais Fosfatos
São os minerais responsáveis por liberar Fósforo no solo. São relativamente mais raros, e é justamente por isso que o Fósforo é um dos elementos químicos mais disputados pelas plantas (porque ele sempre está em baixas concentrações no solo).

São originados principalmente de Rochas Sedimentares, como a Fosforita. 
Extração de Fosforita
Oron, Negev, Israel
Foto de Wilson44691

O mineral fosfatado mais conhecido é a Apatita. 

Mineral Apatita
Foto retirada do site gemstagram.com


Minerais Silicatos
São os minerais mais abundantes do planeta terra. Cerca de 97% dos minerais do planeta são Silicatos (os outros 3% são compostos pelos óxidos, carbonatos e fosfatos). Eles podem liberar diversos tipos de elementos químicos no solo (Magnésio, Ferro, Sódio, etc). 

Podem ser originados de vários tipos de rocha, como as Sedimentares (ex Arenito), Metamórficas (ex Xisto) ou Ígneas (ex Granito). 

Formação de Arenito
Fotos feitas por mim durante visita ao Parque Estadual de Paraúna
Paraúna, Goiás, Brasil
Formação de Xisto
Central Park, Nova York, Estados Unidos
Foto de Loadmaster (David R. Tribble)


Formação de Granito
Montanhas Huangshan, Anhui, China
Foto de Jesse Varner

Os minerais silicatos mais bem conhecidos são o Feldspato e o Quartzo. 

Mineral Feldspato
Foto de Robert M. Lavinsky


Existem vários tipos de Quartzo. O mais comum que a gente encontra no solo é aquele transparente (ou leitoso) que a gente chama de Pedra Cristal. 

Mineral Quartzo
Foto de Didier Descouens

Quando essa Pedra Cristal tem alguns tons coloridos de rosa ou roxo, a gente chama o Quartzo de Ametista. 

Mineral Ametista
Foto de Gonzalo Devia


O Tamanho dos Minerais 
A partir do momento que os minerais passam a ser intemperizados de maneira mais forte, eles perdem a sua forma cristalina e vão diminuindo de tamanho. Os menores tamanhos que um mineral pode atingir são: tamanho Areia, tamanho Silte e tamanho Argila. 
Tamanho dos Minerais
Foto retirada do slide “Revisão: Gênese dos Solos”, feito pelo Engenheiro Florestal Bruno Mendonça

Qualquer mineral que estiver um tamanho entre 2 a 0,05 milímetros vai ser chamado de Areia. Os minerais que estiverem entre 0,05 a 0,002 milímetros vão ser chamados de Silte e os minerais que tiverem um tamanho menor que 0,002 milímetros vão ser chamados de Argila. 

Uma característica interessante que está relacionada com o tamanho dos minerais é a capacidade de apresentar cargas elétricas. Quando as partículas dos minerais apresentam cargas elétricas elas passam a ficar unidas, e com isso elas conseguem reter água e outros elementos químicos (cálcio, fósforo, etc.) ao seu redor. Quanto menor for o tamanho da partícula do mineral, maior é a capacidade dele de apresentar cargas elétricas. 

Qualquer mineral que estiver acima do tamanho Areia (um tamanho maior que 2 milímetros) vai ser chamado de Cascalho. Cascalho, Pedra, Matacão, etc. são todos nomes relacionados ao tamanho da partícula do mineral, e os nomes vão mudando na medida que o tamanho aumenta. Aqui nessa publicação eu só vou focar nos tamanhos Areia, Silte e Argila, tá ? Esses são os tamanhos mais importantes. 


Tamanho Areia  
É a partícula que tem o maior tamanho, e portanto, o maior peso. A areia é a responsável por compor o esqueleto do solo (ou seja, mantem ele firme). 
A areia praticamente não tem carga elétrica, então por conta disso as suas partículas ficam super soltas. Como elas ficam soltas, tem muita dificuldade de reter água e outros elementos químicos. 

Os minerais que normalmente estão presentes nesse tamanho são aqueles que compõem o grupo dos Silicatos. Os minerais silicatos mais comuns que compõem a areia são o Quartzo e o Feldspato. 

Aos cultivadores de plantas: cuidado quando forem utilizar a areia, ta ? Como ela pode ser formada por vários minerais diferentes, elas podem apresentar várias características diferentes. Por exemplo, se eu vou cultivar plantas carnívoras, como Droseras, eu não posso colocar no substrato delas uma areia composta de minerais como o calcário (o calcário deixa o substrato alcalino, e plantas carnívoras odeiam isso). Se você precisa usar a areia, procure utilizar uma que seja formada por minerais específicos (ex areia de quartzo), porque assim você vai saber quais são as características exatas que ela tem (se é ácida, alcalina, etc.). 
Amostras de Areia de diferentes partes do mundo
Foto de Siim Sepp

Tamanho Argila  
É a partícula que tem o menor tamanho, e portanto, é a mais leve de todas. A argila também é responsável por compor o esqueleto do solo, mas diferente da areia, ela tem uma quantidade muito grande de carga elétrica. 

Como tem muita carga elétrica, as partículas de argila ficam muito unidas, e assim conseguem reter muita água e muitos elementos químicos. Solos ricos em argila geralmente tem mais nutrientes do que solos ricos em Areia. 

Os Óxidos (hematita e Goethita) e os minerais Silicatos (Olivina, Piroxênio, Anfibolito, etc.) são os principais responsáveis por formar a Argila. 
Hematita no tamanho Argila
Quando a Hematita está nesse tamanho ela é conhecida como Argila Vermelha
É a Hematita que é responsável por dar a cor vermelha a solos como o Latossolo, Argissolo e Nitossolo
Foto de Benjah-bmm27

Moldando uma escultura de Argila
É graças a carga elétrica presente na Argila que é possível fazer estruturas como essas
Foto de Enric Sagarra


Tamanho Silte 
É a partícula de tamanho intermediário e vários minerais podem existir nesse tamanho. Apesar de ter um tamanho menor, ela não tem carga elétrica como a argila. Isso significa que as partículas de silte ficam soltas que nem a areia, e elas também não conseguem reter muito bem a água e outros elementos químicos. 

Pelo fato das partículas de silte serem menores elas acabam sendo mais leves, e como elas não ficam unidas elas acabam sendo facilmente levadas pelo vento. São as partículas de silte que compõem as famosas tempestades de poeira. 

Nos Estados Unidos, lá pra década de 1930 ocorreram gigantescas tempestades de poeira negra que ficaram conhecidas como Dust Bowl. Elas chegaram a durar quase 10 anos. As partículas de silte ficaram expostas quando a vegetação nativa foi retirada para o plantio de monoculturas. Tem um ótimo documentário no YouTube que explica muito como tudo isso ocorreu, ele se chama “Tempestade Negra”. Ele foi uma indicação da minha professora de Ciências do Solo. 

Tempestade de Poeira causadas por partículas de Silte
Texas, Estados Unidos
Foto de NOAA George E. Marsh


O Solo e os Horizontes 
O Intemperismo é um processo lento, que vai ocorrendo gradualmente ao longo do tempo. Isso significa que a rocha não é decomposta de uma só vez, o Intemperismo é um processo que vai ocorrendo pouco a pouco, um passinho de cada vez. 

Se a rocha é decomposta um passinho de cada vez, isso significa que o solo também é formando um passinho de cada vez. O mais interessante é que esses passinhos ficam registrados dentro do solo, formando uma ordem específica que é chamada de Horizonte. 

Os Horizontes são formados a partir de um passo a passo, então isso significa que todos os Horizontes estão conectados em uma ordem de formação (tem aquele que surgiu primeiro e tem aquele que surgiu por último). Os Horizontes mais novos são aqueles que estão em contato com a rocha, e os mais antigos são aqueles que estão mais distantes da rocha. 
Ilustração do Perfil de um Solo mostrando os Horizontes
Modificação que eu fiz da ilustração feita originalmente pelo Departamento de Agricultura dos EUA e que eu retirei do wikipedia.org

Os Horizontes mais novos vão ser aqueles que estão nas zonas mais profundas do solo, que acabaram de passar ou ainda estão passando pelo processo de Intemperismo (são muito parecidos com a rocha que deu origem a eles). Os Horizontes mais antigos vão ser aqueles que estão mais próximos da superfície, que já passaram pelo processo de Intemperismo a muito tempo (são completamente diferentes da rocha que deu origem a eles). 

Formação dos Horizontes
Foto retirada do @pedologando, um perfil maravilhoso do Daniel Pontoni dedicado a divulgar os conhecimentos da Ciência do Solo pelo Brasil

Horizonte C
É onde o processo de Intemperismo começou a atuar. A rocha começou a sofrer o processo de decomposição e começou a formar um pouco de solo, mais a maior parte dos componentes dessa região ainda é a própria rocha. Os pedaços de rocha que são encontrados soltos nessa região são chamados de Saprólitos. 

O Horizonte C faz parte da zona profunda do solo (zona subsuperficial). 


Horizonte B
É onde o processo de Intemperismo atua de maneira mais forte. A rocha já foi totalmente decomposta e os minerais são encontrados apenas no tamanho Areia, Silte e Argila (principalmente a argila, ela está muito concentrada nessa região). 

O Horizonte B faz parte da zona profunda do solo (zona subsuperficial). 


Horizonte A
É onde o processo de Intemperismo já passou a muito tempo. Essa é a região do solo mais conhecida das pessoas, porque é nessa região onde a maioria dos seres vivos estão. Esse Horizonte é conhecido como “zona das raízes”, porque é justamente aqui onde elas estão mais concentradas. Essa é a região mais rica do solo, porque ela possui nutrientes que vieram da decomposição da rocha (que está nas regiões mais profundas) e possuem nutrientes que vieram da decomposição da matéria orgânica (que veio da superfície). 

O Horizonte A faz parte da zona superficial do solo. 


Horizonte O ou H
É a onde ocorre a acumulação da matéria orgânica. É a região onde está localizada a serrapilheira, aquela cobertura de folhas mortas que recobre a superfície do solo. 

Outros Horizontes podem ou não estar presentes, são o caso do Horizonte R e o Horizonte E. 


Horizonte R
O Horizontes R é a própria rocha que deu origem ao solo. Quando começou o processo de Intemperismo ele estava na região da superfície, mas na medida que o processo foi avançando ele foi se decompondo e foi se afastando da superfície. Quanto mais antigo for o solo, mais longe da superfície o Horizonte R vai estar. 

O Horizonte R faz parte da zona profunda do solo (zona subsuperficial). 


Horizonte E
Esse é um Horizonte bem específico, e pra ele surgir são necessários alguns processos meio complexos. Esses processos vocês vão ver quando lerem sobre os Espodossolos e Argissolos. 

Ainda existem vários Horizontes dentro do solo, como o Horizonte Bt, Bw, Bi, Bg, Bhs, são uma infinidade de nomes diferentes, descrevendo processos diferentes. Esses Horizontes existem apenas em situações mais específicas, então por conta disso eu não vou falar deles aqui não, mas vou dar um exemplo. 
Perfil de um Latossolo mostrando seus Horizontes
Foto de Marcos Gervasio Pereira, retirada do livro “Formação, Classificação e Cartografia dos Solos

Perfil de um Espodossolo mostrando seus Horizontes
Paraná, Brasil
Foto retirada do slide “Principais Solos do Litoral do Paraná

Pode ser difícil identificar os Horizontes do solo por conta da transição natural que ocorre entre eles. As vezes fica difícil de identificar por conta da nitidez das cores, e outras vezes é por conta da faixa que separa os Horizontes. 
Separação dos Horizontes pela coloração
A separação pode ocorrer de forma: (1) Abrupta, (2) Clara, (3) Gradual ou (4) Difusa
Ilustração retirada do livro “Formação, Classificação e Cartografia dos Solos

Separação dos Horizontes pela faixa
A separação entre as faixas pode ocorrer de forma: (1) Plana, (2) Ondulada, (3) Irregular ou (4) Quebrada
Ilustração retirada do livro “Formação, Classificação e Cartografia dos Solos


Pra que serve os Horizontes ?
São os Horizontes que são responsáveis por dar nome ao solo. Eles são responsáveis por passar informação que a gente chama de diagnósticas. As informações diagnósticas podem estar relacionadas com: (1) a história da formação do solo (por qual processo ele passou?), (2) idade (é um solo novo ou antigo?), (3) composição (é rico ou pobre em nutrientes?), (4) textura (tem mais Areia ou mais Argila?), etc. São essas e mais algumas outras informações que são utilizados para classificar os solos. 

Então pra poder classificar um solo (isto é, dar um nome a ele) precisamos fazer uma análise do seu perfil. Pra fazer uma análise do seu perfil, precisamos identificar quais são os Horizontes que o solo tem. 
Solos diferentes vão ter Horizontes diferentes. Alguns vão ter Horizontes bem profundos (esses são os mais antigos), já outros vão possuir os horizontes bem mais rasos (esses vão ser os solos mais novos). Alguns solos vão possuir todos os Horizontes (O, A, E, B, C, R), já outros vão possuir apenas alguns (A e C). 

Pra finalizar esse assunto de Horizontes, vamos deixar claro uma coisa aqui. 

Horizonte não é o mesmo que camada, está bem ? Quem tem camada é sedimento. Os sedimentos são depositados em camadas, e as camadas não tem relação entre sí (ou seja, uma camada não influenciou na formação de outra camada) e como não tem relação entre si, não podem ser chamadas de Horizontes. 


Que tipos de Solos existem no Brasil ? 
Existem 13 tipos de solos aqui no Brasil (as chamadas classes de solos) e eles ocorrem em diferentes lugares. Alguns vão ocorrer mais nas regiões Nordeste e Sul, já outros vão ser mais encontrados na região Norte e Litoral Brasileiro. Alguns solos são encontrados apenas em áreas aonde tem florestas, já outros são encontrados apenas em áreas que ficam alagadas. 

Pra facilitar a vida de todo mundo, eu fiz uma publicação específica pra cada um dos 13 tipos de solo. Em cada publicação vai ter informações falando a respeito de coisas como: 

1 - Nome do solo (porque ele tem esse nome ?) 
2 - Formação Pedogênica (o solo foi formado por qual processo ?) 
3 - Origem Geológica (ele foi formado a partir de que rocha ?) 
4 - Tipos de Solo (quantas variações existem desse solo específico ?) 
5 - Características (é rico ou pobre em nutrientes ?) 
6 - Onde pode ser encontrado 1 (ele ocorre em qual estado ?) 
7 - Onde pode ser encontrado 2 (que tipo de vegetação eu posso encontrar em cima desse solo ?). 

Eu organizei os 13 tipos de solo em uma lista, basta clicar no nome do solo e você vai ser levado a publicação que fala sobre ele, está bem ? 
Eu poderia ter organizado a lista de solos em ordem alfabética ou em ordem cronológica (qual solo é formado primeiro), mas eu achei melhor organizar de uma maneira que facilitasse o aprendizado de todo mundo (as vezes você precisa conhecer um tipo específico de solo, pra só depois poder aprender sobre o outro). 
Por isso eu sugiro FORTEMENTE que você olhe as publicações na ordem que eu coloquei, tudo bem ? 

Os solos que ocorrem no Brasil são esses: 




Referências

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